sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

RETRÔ

"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros." (Clarice Lispector)

Tô aqui fazendo a retrospectiva do que foi 2008. Comparando as pichotadas com os momentos bacanas, acho que sai no lucro. Vou destacar hoje um dos golaços que fiz no ano passado: a minha “descoberta” de Raul Seixas. Esse foi realmente um grande momento.

Sempre achei o cara uma figuraça, um grande intérprete e compositor, um nome importante da nossa música. Mas depois que um aluno me deu de presente sua discografia (obrigado, Marcelo!) e me apresentou alguns temas não tão comerciais, fui ter a dimensão da riqueza da sua obra. Em março li uma biografia do maluco beleza e aí pirei de vez. Sou fã incondicional de Paulo Coelho (que pra quem não sabe foi parceiro do Raul em muitos sucessos) e conhecendo melhor a trajetória dos dois, a Sociedade Alternatina, a prisão e o exilio, as várias fases da sua carreira, a ficha caiu de vez e pude perceber o quanto eu perdi todos esses anos por ser um pouco indiferente ao trabalho desse compositor. Nada a ver com suas musicas polêmicas falando do diabo, de discos voadores. Também não confundi nem julguei seu jeito irreverente com que tratava a política, a religião e até outros artistas. Meu problema era o tipo de som. Na minha ignorância eu achava que seu trabalho ficava fechado no rock and roll. Mais tarde fui vendo que ele era um dos artistas que mais misturava estilos. Raul compôs pop, blues, balada, música nordestina, bolero e até brega e música sertaneja! E ano passado mergulhei fundo em tudo isso. Em julho fui convidado a participar de um tributo. E mesmo não sendo a pessoa mais indicada, mesmo não sabendo tocar nem cantar muitos clássicos, aceitei o desafio. Pra complicar mais resolvi montar um repertório com músicas mais obscuras ou menos conhecidas do grande público. Minha intenção era a de conhecer e aprender mais ainda sobre a obra do baiano. O show não foi lá essas coisas mas o que eu queria eu consegui: descobri canções maravilhosas como "Meu Amigo Pedro" (que Paulo Coelho escreveu pro seu pai) ou o tango “Canto a Minha Morte” com sua harmonia complexa. Relembrei a ótima “Tu És o MDC da Minha Vida” com sua letra sarcástica, me diverti com Rock das Aranha”, improvisei solando em “Canceriano Sem Lar”, vibrei com a energética "No Fundo do Quintal da Escola" e, depois de tantos anos, finalmente prestei atenção na profundidade da letra de “Medo da Chuva”. Assim fechei o ano com mais minhoca na cabeça, porém enriquecendo meu repertório com mais um monte de músicas legais. Agora é só estudar e decorar as letras pra no próximo show fazer bonito.


postado ao som de “Gnossiennes n 1” (Erik Satie)

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