terça-feira, 28 de abril de 2009

RESENHA

"O Rock 'n' Roll é uma das chaves, uma das muitas, muitas chaves de uma vida complexa. Não fique se matando tentando todas as outras chaves. Sinta o Rock 'n' Roll, e então provavelmente você vai descobrir a melhor chave de todas." (Pete Townshend)

Foi bem legal o primeiro encontro dos alunos no nosso pequeno auditório improvisado. Segundo Seu Antonio, nosso querido porteiro, foram quase 50 pessoas que apareceram na escola nesse sábado. E o curioso é que quase não tivemos visitantes, parentes e amigos dos alunos. A maioria esmagadora foi mesmo dos nossos pupilos. O que atrapalhou foi a demora na montagem do som. Terminei a aula de teoria ás 17 horas em ponto pra gente começar o barulho mais cedo mas não teve jeito: tive problemas pra conectar os cabos na mesa de som e por conta disso e de alguns telefonemas a bagunça só foi começar depois das dezoito. O bom é que deu tempo do pessoal se organizar e ensaiar alguns sons que não estavam cem por cento. Apresentei o Zaqueu a dupla Vinicius/Jéferson e rolou uma química bacana. Esses dois estão comendo o violão e ficaram de tocar “Condicional” do Los Hermanos e “Eu Quero Sempre Mais” do Ira! que concidentemente faziam parte do repertório do Zaqueu. Muita gente nova se conheceu e grande parte dos alunos resolveu trazer refrigerante e lanches. A grande campeã foi a esfiha do Habib’s que a galera caiu matando. Outra ótima surpresa ficou por conta do Henrique, ex aluno que trabalha num estúdio que fica no último andar do nosso prédio, que desceu com uma câmera profissional pra filmar a reunião. Perfeito. Começamos a sessão de canjas com uma formação acústica. As duas únicas músicas com esse formato foram “Índios” da Legião na versão do acústico MTV e “A Cruz e a Espada” do RPM na versão do Paulo Ricardo. Cantei essas duas sem aquecer a voz e depois de uma coca gelada. A voz falhou em alguns momentos mas rolou numa boa e não cheguei a assassinar a balada. Na primeira fui acompanhado pela dupla fominha, os novos parceiros do Zaqueu, e eles mataram a pau. Entrosados, não perderam nenhuma nota daquela introdução que faz o papel do piano da gravação original e que até o próprio Dado Villa Lobos sofreu pra tocar na gravação do acústico MTV. Na música do Paulo Ricardo quem me acompanhou foram os “The Williams”. William Lima e William Melo são alunos do meu irmão há apenas dois meses e já despontam como uma boa promessa pra esse ano. Dividindo violão e contrabaixo, os dois mandaram muito bem e seguraram as pontas mesmo no final, quando dei uma vacilada na letra. Fecharam sua participação em seguida tocando “Quando o Sol Bater na Janela do Seu Quarto”, outra da Legião. Nesse número chamei o versátil João Paulo pra assumir as baquetas. Dessa vez além de cantar toquei guitarra pra dar mais peso. Adorei. Na quarta música mais uma formação inusitada de pessoas que nunca se viram: Jéfferson, violonista virtuoso, evangélico e aluno do meu mano, colocou as diferenças no bolso e cantou a profana “Pescador de Ilusões” do Rappa acompanhado pelo teclado do Gustavo (pimpolho de 11 anos que tá na escola somente um mês e meio), pelo violão da Larissa (a multiinstrumentista que topa tudo) e pelo excelente Duo Faria (eu na bateria e o mano no baixo!). Apesar da cola da letra o cara comandou a turma e sua interpretação foi impecável. Começamos a pular algumas músicas do set list por causa do tempo curto e seguimos fazendo a estréia de um trio em família. Mauro que é pai da Stefanie que é namorada do Lucas apresentaram a clássica “Gostava Tanto de Você” do saudoso Tim Maia. Mauro cantou (com a letra na mão) assessorado pela filha no contrabaixo (ela faz aula de violão!), pelo genro no violão, pelo Duartinho na guitarra (que aprendeu a música uma hora antes dessa canja) e pelo João Paulo na bateria que ensaiou o início com o samba rock da gravação original. Deu tempo de avisar a ele que seria melhor puxar uma levada mais soul pra não derrubar o trio. Deu certo. A música ficou boa e fiquei feliz com o batismo da família. Chamei novamente o Jéferson e o Vinicius que dessa vez acompanharam o Zaqueu na strokeana “Condicional”. Sentei na bateria, e mesmo sem uma baixista na formação, me empolguei e desci o cacete! Como “nosso” câmera Henrique tava filmando direto, recomecei a música com os meninos depois de avisado que o som da bateria tava alto. Desencarnei o Keith Moon e peguei leve. Mesmo com alguns atropelos no meio por causa das várias convenções da bateria com as guitarras e até de um breque no final onde todos os holofotes se voltariam pro guitarrista Jéferson que faria aquele maravilhoso riff do Rodrigo Amarante, a música mais energética daquele dia rolou até o final. E considerando que eles ensaiaram minutos antes, acho que se superaram. Olhei pra hora e pra galera que tava assistindo e vi que muita gente não tocaria se eu não corresse. Alguns pediram pra tocar “Que País é Este” e como ninguém se manifestou pra cantar essa carne-de-vaca topei fazer pra ajudar a moçada. Dessa vez Mauro foi pro teclado e a Larissa pra bateria. Completaram a banda o Felipe Moura na guitarra, o Lucas no baixo e William Lima voltando no violão. Achei que o andamento ficou lento e estranhei cantar naquele pique já que esse som é quase um punk rock, mas valeu pra turma tocar em grupo e matar a vontade. Depois dessa olhei de novo pro relógio e percebi que teria que limar mais um monte de músicas da minha relação. Perguntei quem ainda não tinha tocado e localizei uma panelinha no fundo da sala, todos sedentos pra tocar. Convoquei o Felipe Carvalho pra guitarra, o Beto pra bateria, o Rommel pro violão e o Caíque pro contrabaixo pra armarem a cama pro nosso frontman da noite: Zaqueu soltou a voz novamente em “A Sua Maneira”, versão do Capital Inicial de uma canção de uma banda argentina. Percebi que outro aluno de canto tinha chegado e coloquei o cara pra cantar na seqüência. Como a música era o xote do Gilberto Gil que a gente tem tocado no repertório da banda de baile, o instrumental rolou tranquilamente. Meu irmão respondeu pelo contrabaixo, João Paulo mais uma vez na bateria e eu me matando pra tocar o violão com mais volume por causa da equalização que nesse momento tava zoada. Mesmo assim achei que foi um dos melhores momentos já que o Antonio é super afinado e se mostrou seguro na interpretação de “Esperando na Janela” por saber a letra de cor e salteado. Quase no final quis fazer o batismo do Lucas Vilela na guitarra. Ele é um dos nossos alunos mais antigos e começou no contrabaixo tocando rock and roll. E pasmem, o cabeludo agora tá tocando violão e estudando música brasileira e temas com muita harmonia. E foi justamente esse o ponto forte dessa sua canja. Me acompanhou em “Flor de Lis”, samba do Djavan com muitos acordes e que sempre cantei em casa. Como tava à vontade com meu irmão no baixo e João Paulo quebrando tudo na bateria mesmo sem conhecer direito a música, me empolguei e fiquei improvisando no final com vocalizes no estilo Leny Andrade. Sei que a galera não entendeu nada mas pelo menos me diverti. Com o tempo estourado fizemos a última com a banda que tava no palco. Como tinha acabado de descobrir que o Zaqueu tava com a letra na ponta da língua, peguei a guitarra e puxei “Zóio de Lula” do Charlie Brown. Zaqueu cantou a saideira com outra quebradeira do nosso melhor baterista e com as cordas deitando e rolando sobre a seqüência dos dois únicos acordes desse reggae. Paramos faltando dez minutos pro prédio fechar e apesar da correria e das poucas músicas executadas, gostei do resultado. Acho essa iniciativa importante porque juntar o pessoal pra se apresentar num ambiente diferente e diante de pessoas amigas que encaram o mesmo desafio é fundamental pra se resolver a questão da insegurança, do ouvido e também o fator psicológico. E no caso dessa apresentação, acho que serviu de prévia pra audição no mês que vem. A tendência é crescer o movimento e todo mundo ficar sem vergonha. Aí vai ficar mais legal porque todo mundo solta a franga e a diversão fica completa. Só não quero que tirem a roupa.

Postado ao som de “Minhas Mãos Meu Cavaquinho” (Henrique Cazes)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

SEMENTE

“Quero ter alguém com quem conversar. Alguém que depois não use o que eu disse contra mim” (Renato Russo)


Não sei exatamente

O que me aconteceu


Nosso encontro foi recente

Mas parece que a gente

Há muito se conheceu


Lembro aquele ambiente

Tanta gente deprimente

Quase a gente se perdeu


Foi tudo tão coincidente

Me tornei seu confidente

E você me apareceu


Foi assim tão de repente

Ficou tudo diferente

E o amigo se perdeu


E se Deus foi providente

Pôs você na minha frente

Meu coração obedeceu


Não sei exatamente

O que me aconteceu


No início indiferente

E agora dependente

Daquele sorriso seu


O desejo de te ter crescente

A vontade de te ver freqüente

Imagino você e eu


Uma imagem em minha mente

De um momento indecente

Que a gente não viveu


Talvez eu tenha a semente

Que sua mão incompetente

Não plantou e nem colheu


O que era evidente

O que estava transparente

Você nunca percebeu


Não sei exatamente

O que me aconteceu


A menina atraente

A mulher inocente

Que aos poucos me envolveu


Não quer que eu alimente

O que já é suficiente

Pra esquecer que se sofreu


A solidão está presente

Pro homem sincero e carente

Que você não entendeu


Serei mais um pretendente

Que sonha inutilmente

Em ter um carinho seu


Não sei o que você sente

Mas já sei exatamente

O que me aconteceu


Aquela moça era pra mim apenas mais uma colega de trabalho. Querida por todos pela sua simpatia e espontaneidade, se tornou uma grande amiga num momento difícil de nossas vidas onde. Depois de dois anos trabalhando juntos percebi a mulher especial que ela era e comecei minha grande batalha. Ela me deu muito trabalho mas no final venci a guerra. Escrevi essa letra em 1992 quando me apaixonei por essa que se tornou minha grande companheira e a mãe das minhas filhas.


Postado ao som de “Samba de uma Nota só” (Leny Andrade e Romero Lubambo)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

MEL NA CHUPETA

“É fácil. Basta você escolher um acorde, fazer “pléin”, e pronto, você fez música” (Sid Vicious)

Preparando a moçada pra canja no próximo sábado acabei descobrindo um monte de músicas conhecidas com poucos acordes. Resolvi listar aqui alguma delas com suas respectivas divisões cifradas.

1. ACIMA DO SOL (Skank) – Am | % | G | % ||

2. PESCADOR DE ILUSÕES (Rappa) – a) Am | % | G | % || b) C | Am | G | % ||

3. FAZ CHOVER (Toque no Altar) – Am | F | C | G ||

4. O SOL (Jota Quest) – a) A | E | G | D || b) A | E | D | A ||

5. ZÓIO DE LULA (Charlie Brown) - C#m G#m ||

6. LENHA (Zeca Baleiro) – C | G | F | C ||

7. A SUA MANEIRA (Capital Inicial) – Bm G | D A ||

8. LA BELLA LUNA (Paralamas do Sucesso) – E B7 ||

9. POR ONDE ANDEI (Nando Reis) – a) C | G | Dm | F || b) C | G | Bb | F ||

10. VELHA INFÂNCIA (Tribalistas) – F#m | Bm | E | F#m ||

Com exceção dessa última música cantada pela Marisa Monte e Arnaldo Antunes no projeto Tribalistas, que tá em seis por oito, todas as outras seguem na fórmula de compasso quartenária (quatro por quatro)

Postado ao som de “Arthur e o Gigante” (Arthur Maia)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

A BÚSSOLA DE JOHN LOCKE

"Coisas do Universo e Coisas da Coisa. E as Coisas da Coisa, minha filha, essas é que são o negócio, entende? Quem é que pode explicá-las?" (Raul Seixas)

Assim como em Lost, aqui as coisas volta e meia só aparecem depois que aconteceram depois de um bom tempo. Publiquei uns 10 textos retroativos de fatos ocorridos entre março e abril. Quem quiser se atualizar...

Postado ao som de “Chiclete” (Ultraje a Rigor e Edgard Scandurra)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A DÚVIDA

A experiência me mostrou muito tarde que não se pode explicar os seres a partir de seus vícios, mas sim partindo daquilo que conservam intacto, de puro, daquilo que lhe resta da infância, por mais profundamente que seja necessário buscar. (Georges Bernanos)

Um dia desses ri sozinho
Lembrando tua zombaria
Ainda ecoa a gargalhada
Mas de bom quase não sobrou nada

Os discos que compramos juntos
Confesso nunca mais ouvi
E os ídolos que nos marcaram
Quase todos já nos deixaram

Os amigos não estão por perto
Não falam mais a nossa língua
Muitos anos já se passaram
Mas ainda lembro dos seus sonhos

Não há mais temor
Da fúria do mundo
Só há liberdade
Da sua vontade
Não sei mais de você
Quem vai ser feliz?
A certeza do teu sim
Com a dúvida do nosso fim

Quando me ouviu e não me escutou
Quando me viu e não me enxergou
Não aceitei mas entendi
Que você não estava mais aqui

E no final da madrugada
A nudez não foi castigada
Não foi só você quem escreveu
Essa história que alguém já leu

As águas levaram o tempo
O vento levou a fumaça
Todo o humor se acabou
E o amor nunca chegou

Não há mais temor
Da fúria do mundo
Só há liberdade
Da sua vontade
Não sei mais de você
Quem vai ser feliz?
A certeza do teu sim
Com a dúvida do nosso fim

Tive poucos amigos na adolescência. E mesmo na rua que morei durante muitos anos no Rio, só tive uns dois ou três amigos de verdade. E um deles perdi na época em que a gente mais se entrosava e compartilhava tudo. Esse amigo não morreu, pirou com maconha. Isso mesmo, ficou maluco fumando baseado. E o mais foda é que o cara não fumava muito, só dava uns tapas nos fins de semana, mas como já tinha tido problemas de disritmia na infância, acho que o pouco do bagulho que fumou foi fatal. O Jorginho era um moleque super alegre e eu me divertia muito com ele. Tinha uma risada estranha, gozada, tirava sarro de todo mundo, entretanto com as meninas era mais retraído. Me lembro como se fosse ontem, a gente feliz da vida comprando os três primeiros discos do Barão Vermelho no Shopping Rio Sul e doido pra chegar em casa pra curtir junto aquele som. O crioulo era boa pinta, inteligente, bem humorado, bom de bola e de xadrez. Mas de uma hora pra outra começou a ter delírios e não reconhecia mais ninguém. Chegou a ser internado mas voltando pra casa teve crises. Queria comer a mãe, sair pelado pela rua de madrugada (um dia conseguiu mas um amigo em comum salvou o cara antes que alguém visse) e não lembrava das nossas histórias. Foi triste ver meu brother naquele estado. Tive a sensação de estar diante de outra pessoa enquanto que meu amigo de verdade tinha morrido. E ficava de plantão pra não deixar ele sair altas horas da noite completamente nu. Mas ele era teimoso e parecia uma criança. A gente pegava na sua mão e levava pra dentro de casa tentando ensinar o que ele podia e não podia fazer. Com o tempo ele foi voltando e lembrando quem era, das pessoas, mas nunca mais foi o mesmo. Da última vez que tive notícias dele, fiquei sabendo que frequentava uma igreja evangélica e tava até mais calmo. O estranho é que em todo culto, quando perguntavam quem queria aceitar Jesus como salvador, ele levantava o braço. Ou seja, não lembrava que tinha se convertido no dia anterior. Nunca mais soube dele mas no início da década de 90 escrevi essa letra pensando no negão. Guardei com carinho os melhores momentos que tive com ele. Os piores tento esquecer.

Postado ao som de “Smashing Pumpkins” (Earphoria)

sábado, 18 de abril de 2009

INSENSATEZ

"Música é constante renovação. Cada vez que alguém toca, traz ao mundo um novo som." (Daniel Barenboim)

Tenho uma aluna nova chamada Ticiana que na sua primeira aula me surpreendeu com sua técnica e seu repertório. Ela gosta de MPB e pop rock e logo de cara me pediu uma bossa nova do Tom Jobim. Só passei “Insensatez” pra ela porque vi que conseguiria tocar. Na segunda aula me pediu uma da Ana Carolina e foi aí que descobri que a moça também canta. Mesmo com a voz pequenininha a la Nara Leão e Fernanda Takai, ela é bem afinada. Já fiquei de olho pra aproveitar a moça na audição. Vou pedir pra ela participar em duas formações: numa acompanhando ao violão e na outra só cantando. Acho que ela dá conta. Na aula de hoje me pediu um tema instrumental do Vinicius de Morais chamada “Valsa de Eurídice”. Me lembrei que em algum dia do meu passado com autodidata tirei essa música de ouvindo numa versão do Baden Powell. Eu ainda era um roqueiro que não entendia nada do que fazia mas ia na raça e decorava aquele monte de acordes cheios de aberturas. Quando ela me falou desse som hoje me empolguei e quis mostrar alguma coisa mas não veio nada. Nem do primeiro acorde lembrei. Paciência. Talvez ensinando pra ela com a partitura na mão eu consiga recuperar, analisar e voltar a tocar essa linda valsa, agora entendendo tudo e decorando com muito mais facilidade.

Postado ao som de “Ainda é Cedo” (Legião Urbana e Paralamas do Sucesso)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

SOBRADINHO

Se você gosta, vá em frente. Apenas diga sim." (Robert Smith)

Hoje apareceu um sujeito na escola me perguntando se eu tinha algum aluno de teclado ou violão que soubesse solar pra trabalhar com ele. Perguntei seu estilo e ele me disse que só cantava música sertaneja. O rapaz, que se chama Sobradinho, contou que já tinha gravado um CD com uma boa produção, que tava divulgando em alguns lugares e até tinha feito programa de TV. Enquanto ele falava eu prestava atenção no seu jeito de se expressar e nas coisas que ele falava pra tentar perceber algum furo ou pescar algum exagero. Comecei a gostar do jeito do cara e das coisas que ele falava porque me passou naturalidade e em nenhum momento saquei que ele contava vantagem pra me impressionar. Comecei a me interessar pelo seu trabalho quando falou das dificuldades que encontra pra divulgar sua música e dos espaços que tem conquistado se apresentando duas ou três vezes por semana. Quer dizer, o rapaz tá com o pé no chão e eu me identifiquei com ele. Quando lhe falei que naquele momento não me lembrava de nenhum aluno com nível pra trabalhar no seu projeto e que se ele topasse eu poderia fazer uma experiência e tentar aprender seu repertório, ele ficou cabreiro e disse que preferia aluno. Acho que tava com medo de ter um professor no seu grupo por causa da arrogância e dos preconceitos que esse tipo de profissional tem. Falei pra ele que se seu trabalho fosse sério eu vestiria a camisa porque tô ocioso, tô seco pra tocar e cair na estrada pra mim sempre vai ser um aprendizado, além de descolar uns trocados pra comprar um instrumento melhor. Ele me perguntou o que eu conhecia do repertório sertanejo e eu fui logo falando que não era especialista no assunto mas que apesar desse estilo não fazer parte de minha formação eu conhecia bastante coisa de música tradicional, o sertanejo autêntico, a velha música caipira. Ele se empolgou, disse que era justamente esse seu forte por que não gostava das duplas mais novas. Puxamos “Chalana”, toquei de ouvido a harmonia e fiz a segunda voz lembrando da primeira parte da letra. Ele abriu um sorriso e disse que ficou arrepiado. Mais tarde ele me trouxe uma cópia de seu Cd e uma lista com 60 músicas pra eu estudar. Achei legal o desafio e vou encarar numa boa mais uma aventura musical. Será que dessa cartola vai sair coelho?

Postado ao som de “Princesa” (Ludov)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O NÚMERO UM

"Nada me incomoda mais quando grupos como Pearl Jam e Nirvana reclamam da vida e da fama. Deixe eu lhe falar: ser famoso é ótimo! A emoção de quando alguém lhe pede um autógrafo, inacreditável! Eu acho que os americanos estão cansados das pessoas que dizem como a vida deles é chata. Eu acho que as pessoas gostam de nossa música porque nós dizemos como a vida dela poderia ser. Eu acho que não consigo entender os pensamentos de Eddie Vedder e o resto ... quero dizer, se você não gosta do seu trabalho, porque você não vai trabalhar num lava-jato ou no McDonald's?” (Noel Gallagher)


Toda quarta-feira eu começo a dar aula às 8 h. É o dia que acordo mais cedo pra ir pra escola. Pior que esse horário é saber que você vai começar o dia dando aula pra um menino que não tá nem aí pro instrumento. Toda semana a mesma desculpa esfarrapada: não tive tempo de pegar no violão. O pivete mal chega na aula e já fica filmando o relógio torcendo pra aquilo acabar logo. E eu na mesma agonia acompanho ele. Será que a mãe ameaça o guri caso ele se recuse a freqüentar a aula? Encho lingüiça conversando sobre seu dia-a-dia, perguntando sobre seus amiguinhos, sua relação com a família, procurando músicas que mexam com ele, mas não tem jeito. O moleque não se interessa por nada. Prende um acorde com dois dedos e depois de cinco segundos faz careta, tira a mão e começa a soprar a ponta dos dedos. Muito triste. E assim entra semana, sai semana, ele finge que aprende e eu finjo que ensino. Quando saio de mim durante a aula e me vejo atuando como babá fico deprimido. Aí fico o resto do dia borocochô lamentando por não estar na ativa, ganhando a vida tocando. Nessas horas acho até que trabalhar no McDonald’s seria mais interessante. Pelo menos lá tem aquele “sanduíche de minhoca” que eu adoro.


Postado ao som de “Fields of Gold” (Sting)

terça-feira, 14 de abril de 2009

VOLTA SÓ COM COZINHA

"Das músicas que tocamos ao vivo, a maioria são minhas favoritas. Se elas não fossem, eu teria me livrado delas." (Johnny Ramone)

Os ensaios da banda de baile estavam suspensos porque nosso baterista João Paulo tinha viajado no início desse mês pro Ceará, sua terra natal, depois que saiu de férias. Voltou dia desses e hoje fizemos o primeiro ensaio depois de sua volta. Como esse ensaio foi na escola e no horário comercial não deu pra todo mundo participar. Ficamos em três: eu na guitarra, meu irmão no contrabaixo e o Paulo. Além de passar as músicas do repertório da banda de baile, acabamos nos divertindo um pouco lembrando de clássicos do pop rock nacional. Cantei músicas como “Meu Erro” e “Alagados” do Paralamas e “Geração Coca-cola” e “Será” da Legião entre outras. Os alunos que assistiram gostaram. Precisamos voltar com tudo dessa vez.

Postado ao som de “ I Didn't Know I Was Looking For Love” (Everything But The Girl)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

SÓ QUERO FICAR DO SEU LADO

"Quando alguém encontra seu caminho, precisa ter coragem suficiente para dar passos errados. As decepções, as derrotas, o desânimo são ferramentas que Deus utiliza para mostrar a estrada."(Paulo Coelho)

Tento fugir, tento fingir

E não consigo

Lágrimas teimosas

Que sempre escorreram

Palavras banais

Que nunca se perderam

Até quando as noites serão tristes?

Tenho pressa, tenho medo

Só quero ficar do seu lado

Só quero cuidar de você

Tento resistir, tento desistir

E não consigo

Não quero duvidar

De quem me faz ficar tão bem

Você chora e esqueço tudo

Vem ficar logo comigo

A solidão me assusta

E o frio não passou

Só quero ficar do seu lado

Só quero cuidar de você

Letra escrita em 1991 num momento de insegurança. Quando você acredita que o seu amor pode transformar o outro e curar qualquer ferida você investe. Se depois começam as dúvidas sobre a sinceridade da outra pessoa, o medo da solidão ou a falta de amor próprio podem fazer com que você insista num erro que só vai te fazer sofrer. O foda é que quando se gosta demais a gente fica meio cego e infelizmente todos tem que pagar pra ver. Mas é tão doloroso...

Postado ao som de “Clima de Rodeio (Dallas Company)

sábado, 11 de abril de 2009

XAROPE X REI DO POP

"Que a arte me aponte uma resposta mesmo que ela mesma não saiba. E que ninguém a tente complicar, pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer” (Oswaldo Montenegro)

No início da minha adolescência na década de 80 comecei uma coleção que mudaria vida. Como não tinha grana pra gastar com discos, a única forma de ouvir música era com meu velho rádio gravador ou apelar pras fitas k7. E lembro como se fosse ontem: eu com minhas 3 primeiras fitas ouvindo sem parar e sem enjoar. Ouvia um lado, virava, ouvia o outro, virava novamente e começava tudo de novo. Assim conseguia me familiarizar com alguns artistas e esse ritual se repetiu por muito tempo, por vários anos. Com o passar deles as fitas chegaram a 1.800 só parando com o advento do cd e do mp3. Mas no início eram somente 3 . Uma do primeiro disco do Barão Vermelho lançado em 1982, uma da Blitz também daquele ano e a outro do Michael Jackson. Essa fita continha os grandes sucessos do Jackson Five, algumas canções do início da carreira solo e umas gravações ao vivo onde ele mostrava seu potencial vocal num som mais disco music. O fenômeno “Thriller” ainda não tinha sido lançado e eu começava a conhecer e admirar um artista que tava chegando no seu auge. Essas músicas me marcaram profundamente e carrego até hoje na minha memória sonora os detalhes dos arranjos, a respiração e os gritinhos nessa ou naquela música. Baladas com “Ben” ou “Music And Me” me remetem à minha infância num piscar de olhos. As versões ao vivo de “Rock With You” ou “Don't Stop 'til You Get Enough” (que num futuro viria a se tornar a abertura do programa Vídeo Show) também são inesquecíveis. Os anos se passaram, minha coleção aumentou, passei a ouvir outros sons e a ser mais seletivo e preconceituoso. Mesmo pirando no solo super criativo do Van Halen em “Beat It”, deixei um pouco de lado o Michael e fui ouvir rock sem saber que no meu íntimo aquele som já tinha feito seu “estrago” em mim. Fui aprender e curtir outros gêneros enquanto o rei do pop se tornava um dos artistas mais vendidos e consagrados do mundo. Pena que sua infância tenha sido tão difícil a ponto de ter deixado o moço perturbado. Mas hoje, mesmo sabendo das excentricidades do cara, mesmo sabendo que os novos trabalhos que produziu não são tão interessantes, reconheço o talento e a importância desse artista. Resolvi então montar uma coletânea com os grandes momentos da sua carreira. Fiz essa seleção pra mim e pra minhas filhas. Pra mim porque hoje em dia ouço tudo diferente, ouço coisas que não ouvia há 20 ou 25 anos atrás. Viajo nos instrumentos e nos arranjos do grande maestro Quincy Jones, produtor do Michael em vários trabalhos. Pras minhas filhas achei interessante porque vão ouvir um cantor que chega a passear por quase 3 oitavas em canções pop de muito bom gosto ou músicas dançantes que são contagiantes e levantam o astral de qualquer um.

Postado ao som de “Miss You Love” (Silverchair)

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A DUPLA

"O homem é o único ser que tem o poder de modificar as coisas." (Raul Seixas)

Na última terça-feira terminou o Big Brother 9. E como sempre fazem, convidaram um artista consagrado pra fechar a edição. Dessa vez o gênero escolhido foi o sertanejo e seu representante foram os irmãos Zezé di Camargo e Luciano. Eles mostraram aquele som redondo com sua banda competente mas que com suas letras pobres e o vocal cheio de vibratos e rasgadamente agudo do Zezé não fazem a minha cabeça nem me agradam. Como não acompanhei esse BBB nem sou fã do gênero, assisti oprograma por curiosidade, mas pra quem gosta dos caras e acompanhou o programa, a final foi emoção em dose dupla. Hoje eles apareceram novamente. A Globo reprisou o filme “Dois Filhos de Francisco” no horário nobre. Como já tinha visto nem parei no canal. Lá pelas tantas, como não achava nada interessante pra assistir, parei no plin plin e acabei revendo o final do filme. Quando assisti pela primeira vez botei o velho preconceito no bolso e me abri pra conhecer a história dos caras. Gostei dela pelo conteúdo e pela qualidade dos atores. O filme conta toda a trajetória da dupla mostrando a ralação pela qual passaram e a obssessão do pai pelo sucesso dos filhos. Apesar desse lado doentio do pai, que chegou a causar a morte de um dos filhos, me emocionei muito no final quando os dois se apresentam com a presença dos pais e quase não conseguiam cantar de tanta emoção. E assistindo a essa cena final hoje, me emocionei novamente. A lição que tirei dessa história é o velho clichê: que mesmo com todas as dificuldades da vida a gente tem que levantar a cabeça e ser perseverante. Se eles que vieram do nada conseguiram chegar lá numa época onde tudo era mais difícil, imagina então a gente que tem acesso a tanta tecnologia, a tanta informação e ao mesmo tempo tá perto de tudo e de todos? Recomendo esse filme pra todos que tem um sonho e acreditam nele.

Postado ao som de “Você é Linda” (Caetano Veloso)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

TANAJURA

"É necessário acreditar em alguma coisa que possa acalmar o absurdo da vida." (Raul Seixas)

Uma vez ouvi um professor dizendo que a indústria da música era a segunda maior do mundo só perdendo pra do petróleo. Na época fiquei indignado com isso e cheguei a seguinte conclusão: tem muita gente por aí mordendo a minha parte desse bolo. Se nessa área rola mesmo tanta grana, porque é que vivo sempre duro? Pois somente hoje fui descobrir que uma dessas pessoas é a Mulher Melancia. Tava mudando de canal até que percebo uma poposuda no Superpop. Parei pra admirar a “saúde” da moça e só aí caiu a ficha pra mim: somente hoje fui descobrir que a mulher melancia é funkeira e que tá enchendo o rabo (e que rabo!) de dinheiro com música. Como tem um monte de mulher, mulher isso, mulher aquilo, acabei confundindo e pensando que mulher melancia era a mesma que a mulher samambaia do programa Pânico na Tv. E é incrível como no Brasil sempre existe um fenômeno desses faturando uma bolada. Uma hora é um Tiririca, noutra uma Kelly Key. E a gente que estudou sério, investiu grana e tempo, ficou horas, dias, meses, anos debruçado sobre um instrumento segue ralando, tocando ou lecionando muitas horas pra descolar uns trocados. Mas hoje em dia tô mais tranqüilo, mais conformado com essas injustiças porque elas acontecem em quase todos os setores da sociedade. A gente tá no Brasil. E mesmo adorando uma bunda nesse caso eu brocho porque enquanto a mulher melancia (minúsculo mesmo!) aparece no programa da Luciana Gimenez e aumenta o valor do seu cachê, ou a Malu Magalhães que tá rodando o Brasil, se preparando pro show no Citibank Hall e faturando um montão com seu “Tchubaruba”, eu tô aqui contando minhas moedas pra comprar o leite das crianças e pagar os juros do meu cartão de crédito.

Postado ao som “Alvorada” (Cartola)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

SABE

"Ter medo de amar é ter medo da vida; só os mortos são completamente coerentes." (Aldous Huxley)


Sabe, a gente tinha tanta coisa pra falar
Talvez eu tenha errado
Mas você também errou
Muita coisa aconteceu dentro de nós

Meu mundo era tão diferente
E eu não te vi indiferente
Um sorriso foi o bastante pra não resistir
Porque temer perder o que nem se ganhou?

Hoje ainda não sei passar
Por tudo que passei
E o que desperdiçamos
Já não tem muita importância

Alguém sempre pensa em você


A partir de hoje vou publicar uma letra de minha autoria toda segunda-feira. Começo com Sabe porque é a minha composição mais antiga. Na verdade essa letra é uma parceria com um amigo da adolescência com quem toquei na minha primeira banda lá pelos idos dos anos 80 e que há algumas semanas me encontrou no orkut depois de quase 20 anos sem contato (bendito orkut!). Jone Dalto era o único da nossa rua que arranhava um violão. O cara sempre tocava a primeira parte dessa música e fiquei com ela na cabeça por vários anos. Na virada da década comecei a compor pra valer e me lembrei dessa canção. Resolvi escrever o restante da letra pensando na minha primeira grande paixão na adolescência. Ela era a menina mais bonita da minha rua e mesmo “conquistando” a guria, o medo e a insegurança me impediram de viver aquilo. Sofri pra caramba e hoje, quando lembro, percebo o quanto somos tolos em alguns momentos de nossas vidas por deixar de viver experiências que nos fariam muito bem, nos ensinariam tantas coisas. Sei que é fácil falar pra quem tá de fora mas pra quem já passou por várias situações fica tudo menos complicado É por isso que hoje em dia sempre digo pra quem tá inseguro ou na dúvida: enfrentem os seus grilos e paguem pra ver.


Postado ao som de “Knivesout” (Radiohead)