quarta-feira, 15 de abril de 2009

O NÚMERO UM

"Nada me incomoda mais quando grupos como Pearl Jam e Nirvana reclamam da vida e da fama. Deixe eu lhe falar: ser famoso é ótimo! A emoção de quando alguém lhe pede um autógrafo, inacreditável! Eu acho que os americanos estão cansados das pessoas que dizem como a vida deles é chata. Eu acho que as pessoas gostam de nossa música porque nós dizemos como a vida dela poderia ser. Eu acho que não consigo entender os pensamentos de Eddie Vedder e o resto ... quero dizer, se você não gosta do seu trabalho, porque você não vai trabalhar num lava-jato ou no McDonald's?” (Noel Gallagher)


Toda quarta-feira eu começo a dar aula às 8 h. É o dia que acordo mais cedo pra ir pra escola. Pior que esse horário é saber que você vai começar o dia dando aula pra um menino que não tá nem aí pro instrumento. Toda semana a mesma desculpa esfarrapada: não tive tempo de pegar no violão. O pivete mal chega na aula e já fica filmando o relógio torcendo pra aquilo acabar logo. E eu na mesma agonia acompanho ele. Será que a mãe ameaça o guri caso ele se recuse a freqüentar a aula? Encho lingüiça conversando sobre seu dia-a-dia, perguntando sobre seus amiguinhos, sua relação com a família, procurando músicas que mexam com ele, mas não tem jeito. O moleque não se interessa por nada. Prende um acorde com dois dedos e depois de cinco segundos faz careta, tira a mão e começa a soprar a ponta dos dedos. Muito triste. E assim entra semana, sai semana, ele finge que aprende e eu finjo que ensino. Quando saio de mim durante a aula e me vejo atuando como babá fico deprimido. Aí fico o resto do dia borocochô lamentando por não estar na ativa, ganhando a vida tocando. Nessas horas acho até que trabalhar no McDonald’s seria mais interessante. Pelo menos lá tem aquele “sanduíche de minhoca” que eu adoro.


Postado ao som de “Fields of Gold” (Sting)

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