domingo, 20 de setembro de 2009

O VERBO SAGRADO



"Saber amar é saber deixar alguém te amar" (Herbert Vianna)

Há alguns meses atrás li numa edição da revista da MTV uma matéria sobre casais que transformaram o que poderíamos chamar de "amor impossível" em final feliz. Na tal matéria, tinha a história da moça que por solidariedade resolveu escrever cartas de apoio pra um presidiário que era irmão de uma amiga. Acabou se apaixonando depois que foi visitá-lo e hoje, apesar da falta de apoio da família e das amigas e do constrangimento ao passar pela revista nos dias de visita, encontra com ele duas vezes por mês e encara tudo numa boa. Diz que o que vale é o que um sente pelo outro e o que estão vivendo no momento. Tem a história de uma baiana que namora um suíço há dois anos e meio mas só o encontra de quatro em quatro meses quando um dos dois voa pro país do outro. Como rolam muitos telefonemas e e-mails, ela diz que sempre sabe onde ele está, quais problemas tá passando e que ele é muito mais presente na vida dela do que muitos casais. Tem também a história da boxeadora que namora com um argentino nas mesmas condições que a baiana e o suíço. Cada um no seu país, estão sempre pedindo demissão de seus empregos pra se encontrarem. Outro casal apaixonado da matéria: a publicitária loira de 25 anos com um instrutor de capoeira negro de 18 anos. Mesmo com a reprovação dos amigos e a represália da família, ela não se abalou e levou o relacionamento adiante. Tá feliz e diz que apesar da idade ele sempre foi mais maduro que ela. Tem também a história da socialite de uma tradicional família milionária e judia que se apaixonou por um sujeito católico que era o segurança do avô. Ele foi demitido e ela banida da família. A vida dos dois sofreu uma reviravolta: ela abriu mão da herança e largou a mordomia. Já ele virou madrugadas chorando ao ter que deixar os dois filhos do primeiro casamento, mas não se arrependeu. Disse que por ela faria tudo de novo. Hoje dividem as contas e são felizes.
Achei todas as histórias interessantes e o lance do sentimento muito bonito, mas acho muito complicado quando a distância atrapalha e por isso sempre critiquei esse tipo de relacionamento. Quando um amigo meu me disse que tinha arrumado uma namorada em Minas Gerais e um outro amigo me contou que tava com uma garota de Araraquara, perguntei a eles se valia mesmo a pena alimentar uma situação tão complexa, cara, difícil e que tinha poucas chances de dar certo, ter futuro. Antigamente eu era mais radical e achava que entrar numa dessas é pedir pra sofrer, mas hoje em dia já acho que cada caso é um caso e que só mesmo quem tá envolvido pode entender bem e aceitar esse tipo de namoro. O surpreendente é que às vezes a distância não é a desculpa. Tenho uma aluna que namora há dois anos com um enfermeiro e, apesar dele morar no mesmo bairro, se encontram muito pouco. Como ele faz pós-graduação, trabalha por escala e tem muitos "compromissos", não tem muito tempo pra ela. Quando se encontram de quinze em quinze dias ou uma vez por semana, ela vai pra sua casa e junto com a sogrinha assistem vídeos. Porra! Eles ficam sem se ver um tempão e quando se encontram vão ver filmes no sofá da sala?! E o foda é que durante minhas aulas, ela se abre comigo e conta que tá muito deprimida por causa do pouco tempo que fica com ele. Quando me contou isso fiquei meio ressabiado mas acabei botando pilha e dizendo que talvez ela gostasse mais dele do que ele dela, ou que talvez ele tivesse outra pessoa. Ela concordou comigo mas disse que amava muito o sujeito. Não me conformei com sua tristeza e questionei seu sentimento. Lembrei daquele blues do Cazuza que tem aquela frase que diz "se todo alguém que ama, ama pra ser correspondido e se todo alguém que eu amo é como amar a lua inacessível, então eu não amo ninguém., parece incrível, não amo ninguém e é só amor que eu respiro". Depois que citei esses versos seus olhos lacrimejaram. Fiquei comovido mas disfarcei. Falei pra ela ficar a vontade e ela chorou copiosamente. Perguntei como podia uma menina tão legal, bonita, inteligente e meiga continuar com uma pessoa que não lhe dava valor e ainda por cima lhe fazia sofrer daquele jeito. Tamanha era a sua carência e libido que ela chegou a comentar que trairia o seu namorado e até iria pra cama com alguém que não tivesse nome, endereço, história. Como tava desempregada, não tá estudando, não tem muitos amigos e vem de uma família desestruturada, sugeri que procurasse sair mais, passear em lugares públicos, shoppings, ir em eventos gratuitos, enfim, se expor mais. Talvez com isso conhecesse pessoas legais, faria amizades e quem sabe até um carinha legal pra fazer com que ela desencanasse do enfermeiro bunda mole. Me falando de como eram seus momentos com ele, ela disse que pra variar no último final de semana assistiu
Procurando Nemo. Adorou o desenho e se divertiu muito, mas confessou sem o menor pudor que o que ela queria mesmo naquele dia era "procurar” o Nemo. Coitada, ficou chupando o dedo (é o que sobrou!) É foda! (ou melhor, não é!). Finalmente conseguiu arrumar um emprego mas continua com aquele mala. Isso é o que acontece quando a gente se encontra com tamanha carência e uma enorme dor no peito de solidão. A gente prefere ficar mal acompanhado do que só. Mas pensando bem e analisando com calma, talvez eu esteja errado ao questionar sentimentos, criticar meus amigos, estranhar algumas relações. Talvez eu não esteja preparado pra entender o que essas pessoas sentem. Talvez todas essas pessoas, as da revista, os meus amigos e minha aluna, estejam amando realmente. Não o amor banalizado que a gente usa no dia a dia como "eu amo essa música" ou "dedico com todo amor" ou ainda "fiz esse trabalho com muito amor", mas o amor verdadeiro. Mas o que é o amor verdadeiro? Sinceramente não sei. Mas penso que amar talvez seja mais do que pensar na pessoa, se preocupar ou querer o seu bem. Amar pra mim talvez seja o que essas pessoas estão fazendo: sofrendo, tentando, enfrentando diferenças, medos, preconceitos, distância... É não se satisfazer com um e-mail ou um telefonema. É querer estar junto sempre. É querer compartilhar momentos com conversas onde se quer saber tudo do outro, o que viveu desde a primeira infância até hoje de manhã. É querer abraçar, brincar com seu cabelo, olhar dentro do olho, sentir a pele, colocar no colo pra ninar, mapear o corpo do outro até decorar todas as cicatrizes e sinais de nascença. É enfrentar a tudo e a todos pra se ter tudo isso. Acho que amar é se doar sem ficar pedindo em troca, ceder em alguns momentos, respeitar a individualidade do outro, acordar às 6 horas da manhã (no meu caso), chorar pra querer cuidar. É arriscar a vida, cortar o braço fora se for preciso. Acho que quem ama mesmo morre pelo outro.


Post escrito originalmente em outubro de 2004 no Poeira Eterna, meu antigo blog. Logo depois que publiquei esse texto meus amigos desistiram de suas namoradas e minha aluna foi dispensada pelo seu companheiro.


segunda-feira, 14 de setembro de 2009

NOVEMBRO

“A sinceridade é uma abertura do coração. Encontramos ela em muito poucas pessoas, e essa que vulgarmente por aí se vê não passa de uma astuta dissimulação para atrair a confiança alheia.” (Duque de La Rochefoucauld)


Não entendo tudo que vivi

Nem confio no que aprendi

Senti falta do que não queria

E voltei a ser como nunca fui

Percebo a insanidade do que é sagrado

E o corpo inquieto falindo onde antes era só carinho

E a tua coragem de assumir a covardia

Com o golpe delicado e a verdade bruta


Foi difícil acreditar

Que tudo deu em nada

E que todo mal que ficou tão perto

Vinha assim de ti


Perdi tempo procurando solução

Até compreender sua incompreensão

Meus olhos cansados nunca mais buscarão

Aos seus indiferentes

E a última lágrima você não verá

Te quis, te amei, te odiei como ninguém

Meu coração ainda chora

Ele sabe que agora

Não há mais nada a se fazer


Quase derrotado descobri meu poder

Quem sabe saber ao inimigo agradecer?

O vulto de quem deu o melhor

Se perderá pra sempre em seu passado


Vou recomeçar sempre que precisar


Letra escrita em 1991 que fala de traição.



Postado ao som de “Samba do Grande Amor” (Chico Buarque)


sexta-feira, 11 de setembro de 2009

AS APARÊNCIAS ENGANAM

"Fantástico. Agora vocês todos já podem tirar a máscara e ir dormir." (Raul Seixas)


Hoje dei aula pra um baterista autodidata que cada dia me surpreende mais. O rapaz faz parte de uma igreja católica e tá sempre tocando por lá, mas como o cara é cearense sua grande influencia é o forró. Executa muito bem várias levadas diferentes nesse estilo. Quando ele me mostrou a condução mais comum de grupos como Aviões do Forró, percebi uma coisa interessante e comentei com ele. É que a acentuação rítmica desse forró moderno é bem parecida com a acentuação da abertura da novela das oito. A música, que foi tirada do filme Omkara, uma produção da Índia de 2006 que adapta a tragédia ′Othello′, de Shakespeare, segue os padrões da música oriental: com escala diferenciada suas melodias melancólicas são conseqüência de semitons e quarto de tons existentes entre uma nota e outra. Pois só fui incorporar essa e outras canções dessa trilha sonora porque nessas últimas semanas resolvi sair da rotina pra me distrair e acabei acompanhando a reta final da novela. Eu, que normalmente não tenho paciência pra novela por perceber muitos furos e muita forçação de barra, acabei me supreendendo comigo mesmo. Talvez por estar um pouco fragilizado nesse momento acabei me sensibilizando com alguns personagens e me emocionei em quase todos os capítulos que assisti. Foi uma surpresa ver a interpretação da atriz Juliana Paes nessas últimas cenas. A moça deu um show e mostrou que não é só um corpinho bonito. Outra fera que matou a pau foi o ator Bruno Gagliasso que com seu personagem esquizofrênico teve destaque merecido no último capitulo que rolou hoje. E assistindo a esse final percebi um fato curioso: nunca tinha visto tanto corno numa novela. Apesar de clichês como a reviravolta do mocinho contra o vilão, personagens com sotaque ou a descoberta daquele filho desconhecido, a novela mandou bem ao mostrar traições de todos os tipos acontecendo nas famílias de quase todos os personagens. E mesmo retratando o contraste das duas culturas a trama mostrou que até no oriente, onde os valores e as crenças são diferentes, existe falsidade e sacanagem da boa. Teve de tudo: do marido criando o filho do outro até a esposa que dopa o marido pra cair na gandaia. Mas talvez a pior traição tenha sido aquela sofrida pela personagem da Débora Bloch: seu marido lhe traiu com sua melhor amiga! E assim caminha a humanidade. As novelas às vezes servem pra nos mostrar o que nós realmente somos e do que somos capaz . Deixam de ser somente um entretenimento pra ser um retrato fiel da sociedade em que vivemos. Elas lembram a mim e a você amigo leitor, que, ativa ou passivamente, voluntária ou involuntariamente, fazemos parte desse circo. Que mesmo com uma visão cristã da vida podemos ter nossos desvios de conduta. E às vezes o conteúdo dói. Assim como em “Beleza Americana”, pode funcionar como um tapa na cara dos hipócritas e falsos moralistas.


quinta-feira, 10 de setembro de 2009

HAPPY HOUR

Nós sempre temos tendência de ver coisas que não existem, e ficar cegos para as grandes lições que estão diante de nossos olhos."


Em meados de julho eu tava no maior pique com meus projetos. Na época andei ligando pra vários lugares pra descolar espaços pra tocar ou oficinas pra lecionar. Fiquei de enviar projetos pro Shopping de Diadema e pra uma produtora de eventos. Também fiquei de visitar a Secretaria de Cultura de Diadema pra entregar meu currículo já que o recrutamento de oficineiros por lá começa em outubro. O pessoal se mostrou interessado. Fiquei de levar também alguns shows que tenho montado como um que só tem músicas de compositores negros pro dia da Consciência Negra em novembro. Ou um outro pra dezembro que seria um tributo a John Lennon que nasceu no dia 8, data de aniversário dessa cidade. Não fui lá nem consegui botar no papel até agora porque no final de julho fiquei mal e dei uma brochada. Dei uma caída boa e entrei numa deprê daquelas que me consumiu alguns dias. Na verdade a depressão sempre existe mas ela aumenta dependendo do meu momento, do que eu tô pensando ou vivendo. E eu realmente fiquei fraco naquele período por causa do meu remédio e da minha entrega a alguns pensamentos e sentimentos. O interessante é que apesar da dor e da angústia acabo curtindo um pouco essa fase. É como se nessas viagens eu entrasse bem fundo no meu interior e fizesse um encontro comigo mesmo pra saber como vão as coisas. É como se eu fizesse uma reunião com meu alter ego, uma entrevista comigo pra saber a quantas anda minhas idéias de jirico ou minhas dúvidas e certezas. Sempre tiro proveito desses momentos porque procuro avaliar bem cada minuto do meu comportamento. Descubro o porque de cada pensamento que gera aquele sentimento e fico mais atento pra tudo que tá rolando. Vou no fundo do poço e volto numa boa, criando eu mesmo meu caminho de volta. Mas eu não conseguiria nada disso sozinho. E o meu grande parceiro nessas horas não tem sido nenhum amigo, parente ou terapeuta. Deus tem sido muito generoso comigo nesses últimos tempos. Mesmo não chamando tanto por Ele sempre ganho um feedback. Talvez porque eu esteja aberto pra isso ou esteja bastante sensível pra captar cada sinal. E quando percebo alguma dica Dele, rio sozinho, comemoro e agradeço. Logo em seguida me sinto mais forte e mais seguro pra tocar o barco, tomar decisões e administrar meus sentimentos. Acho que Ele percebe que tô tentando melhorar, que essa briga comigo tá dura, que tento ser politicamente correto na maior parte do tempo, que o lado negro que habita em mim tem ficado na teoria. Aí Ele me presenteia ou me dá um empurrãozinho com respostas e cenas em momentos e lugares inusitados. Pode ser no instante em que conserto uma cadeira ou numa simples ida ao banco. Depois desse curta metragem traduzo tudo, e aí fica bem mais fácil montar o quebra-cabeça. Respiro fundo, a ansiedade diminui e inverto os sentimentos. E assim venho superando os obstáculos e voltando ao normal. Aos poucos venho retomando minhas tarefas e acho que até outubro fico novo em folha


Postado ao som de “Signes” (Michael W. Smith)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

MUNDO PEQUENO

"Deus está nas coincidências." (Nelson Rodrigues)


Hoje recebi a visita de uma amiga querida que conheci a mais ou menos uns oito anos quando veio fazer aula de violão. Já fazia um tempão que eu não via a Kátia que é fotografa e fã de MPB. A última vez que nos encontramos foi em dezembro de 2005 numa apresentação minha onde eu fazia um tributo ao Renato Russo. Naquele dia eu também convidei vários amigos e alunos pra darem uma canja e a Kátia foi pra prestigiar e fotografar o evento. Nos últimos anos a gente só se falava no mês de agosto que é quando os dois aniversariam, mas acabamos perdendo contato depois que nossos telefones mudaram. No início desse ano ela começou a fazer faculdade de geografia e caiu na mesma turma de outro grande companheiro, o Henrique Prado, guitarrista da extinta banda Autonomia. Como assistiu a um dos primeiros shows da nossa banda lá pelos idos de 2002, ela reconheceu o Henrique. Foi através dele que conseguimos voltar a nos falar e por conta da correria do dia-a-dia somente hoje conseguimos nos reencontrar. Ela me deu de presente a discografia do João Gilberto em mp3 e relatou um pouco do que fez nos últimos anos. Nos atualizamos em relação as nossas novas convicções, em como vemos o mundo hoje e falamos dos nossos planos pro futuro. Matei a saudade daquele belo sorriso e daquelas palavras carinhosas além de ganhar um abraço apertado e amável que irradiou uma boa energia por toda a escola. Ganhei meu dia.


Postado ao som de “Judia de Mim” (Zeca Pagodinho)

sábado, 5 de setembro de 2009

O FILHO PRÓDIGO

"A amizade mais profunda e dedicada pode ser ferida por uma pétala de rosa." (Nicolas Chamfort)

Há algumas semanas passei por aqui pra reclamar de um aluno que tinha me decepcionado ao reclamar de uma roupa que eu usava. O rapaz leu meu desabafo e veio falar comigo. Tava muito chateado e me pediu desculpas. Expliquei pra ele que não tinha ficado com raiva e sim magoado. E o motivo principal era justamente porque via nele uma pessoa bacana que imaginava nunca ter um comportamento daqueles. Ele reconheceu que tinha sido infeliz naquele comentário e foi humilde ao se desculpar. Resolveu se afastar da escola porque não tinha clima mas deixou claro que tinha uma grande admiração por mim. Refleti sobre o episódio e reconheci que talvez tivesse pegado pesado demais, afinal aquilo era muito pequeno diante de tantos momentos legais que compartilhamos. Quando ele reconheceu que tinha vacilado me mostrou que às vezes passamos dos limites por estar num mal dia ou talvez fraco por viver um fase difícil. Com sua postura simples acho que se redimiu do que fez e acabou me fazendo um bem ao testar minha capacidade de perdoar e de reconhecer que também erro. Me ensinou como ser humilde e me lembrou que existem coisas bem mais sérias pra gente esquentar a cabeça. Fiquei contente em ter meu camaradinha de volta.

Postado ao som de “Último Romance” (Los Hermanos)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

ROQUEIRAS BRAZUCAS

"As mulheres serviram todos estes séculos como espelhos possuindo o poder de refletir a figura do homem duas vezes maior que seu tamanho natural." (Virginia Woolf)

Finalmente consegui reunir num cd várias cantoras que representassem os anos 80 no cenário do pop rock nacional. Essa coletânea, que vai ser vendida na escola, já tava na minha cabeça desde o início do ano mas faltava completar com alguns nomes importantes e escolher duas músicas de cada intérprete. Definir quais músicas entrariam foi a etapa mais difícil. Meu critério foi considerar o pessoal que surgiu naquela década mas eu não podia deixar de fora a rainha Rita Lee que começou nos Mutantes lá no início da década de 70, e a doidona Ângela Rô Rô por ser uma das pioneiras no blues. Cely Campello ficou de fora porque vou colocar a mãe de todas na coletânea de Jovem Guarda. E acho também que a sonoridade do seu som iria contrastar com todo o resto do cd. Outras que entraram sem fazer parte daquela geração foram a Marisa Monte e a Cássia Eller. A Marisa pelo seu flerte com o rock e o pop em vários trabalhos e parcerias, mesmo se tratando de uma cantora que adora o samba e a MPB. A Cássia por ter lançado seu primeiro álbum em 1990 gravando desde Cazuza até Beatles. Preferi deixar de fora o grupo punk Mercenárias por ter um som muito cru e não combinar com o título da coletânea. Outra banda bacana que não entrou foi o Nau que teve como vocalista a ótima Vange Leonel. Como não consegui duas gravações desse grupo, coloquei duas faixas da Vange do seu trabalho solo. Juntamente com as esquecidas Dulce Quental (Sempre Livre) e Virginie (Metrô) desfilam as consagradas Paula Toller, Marina e Bebel Gilberto.

1 - Agora Só Falta Você (Rita Lee)

2 – Simples Carinho (Ângela Rô Rô)

3 – Eu Te Amo Você (Marina)

4 – Esse Seu Jeito Sexy de Ser (Sempre Livre)

5 – Sândalo de Dandi (Metrô)

6 – Eu Preciso Dizer Que Te Amo (Bebel Gilberto)

7 – Nós (Cássia Eller)

8 – Garotos (Kid Abelha)

9 – Beija Eu (Marisa Monte)

10 – Esse Mundo (Vange Leonel)

11 – Doce Vampiro (Rita Lee)

12 – Tola Foi Você (Ângela Rô Rô)

13 – O Chamado (Marina)

14 – Fui Eu (Sempre Livre)

15 – Johnny Love (Metrô)

16 – Cadê Você (Bebel Gilberto)

17 – Primeiro de Julho (Cássia Eller)

18 – Amanhã é 23 (Kid Abelha)

19 – Eu Não Sou da Sua Rua (Marisa Monte)

20 – Noite Preta (Vange Leonel)

Postado ao som de “Liberdade” (Marcelo Camelo)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

ESTRUPÍCIO

"Deus se deixa conquistar pelo humilde e recusa a arrogância do orgulhoso." (Papa João Paulo II)

Na semana passada o Daniel me chamou pra avaliar uma aluna dele de teclado. Enquanto ela tocava ele me perguntou se eu percebia alguma coisa estranha na execução ou algum erro na parte de técnica. Como a aluna tocava fluente e sem nenhum tropeço ou sujeira disse que tava bacana e dei meus parabéns a ela. Meu irmão então falou que só tinha me chamado mesmo pra convencer a moça de que ela tava tocando bem. Foi ai que percebi do que se tratava porque meu irmão já tinha comentado dessa aluna. O que acontece é que ela é casada com um pastor evangélico que tem quase o dobro da sua idade e se diz maestro. Não sei se pela idade ou por causa da educação, o sujeito é muito rígido e conservador e vem implicando muito com ela ultimamente. O chato é que ele tem sido tão áspero e tão rude que tá deixando a pobre coitada com a auto estima lá embaixo e desanimada com o curso. Ela é bonita, educada, tem 30 anos mas com cara de menina, esbanja simpatia e me parece ser uma pessoa simples e pacata. Mesmo assim o “maestro” não dá folga: diz que ela tá tocando tudo torto e sem ritmo, que tá uma porcaria, que ela é um zero a esquerda mais o diabo a quatro. Fiquei irritado e tentei me segurar, mas não teve jeito: eu, que ultimamente tenho praticado mais a auto-observação pra não ficar me metendo na vida dos outros e nem ficar falando merda pra não ser desagradável ou incoveniente, acabei rasgando o verbo. Maldita hora que meu irmão me chamou. Pedi pra ela se olhar no espelho. Tentei levantar sua moral sem falar mal do marido. Sugeri entre outras coisas que ela se gravasse pra perceber o quanto tava tocando bonito. Aí acabei saindo da música e falando demais quando falei da minha vida. Pensei que se talvez ela se identificasse com alguém parasse de se torturar e levantaria a cabeça. E como sempre faço botei o orgulho no bolso e me expus um pouco. Falei de situações que vivi e fiz um revival: falei que fui criticado de graça, balancei mas resisti, que depois de me maltratarem pensei em jogar a toalha mas acreditei que poderia mudar a situação, que depois de várias brigas onde eu era o acusado percebi que eu não era o vilão, que precisei ouvir elogios e palavras de conforto de terceiros pra eu poder me enxergar, que passei a aceitar melhor minhas falhas mas também me valorizar percebendo minhas qualidades, que parei de dar bola pra torcida e assim respeitar mais minha sensibilidade e minha fragilidade, enfim, que a duras penas aprendi que eu era a pessoa mais importante pra mim e ninguém no mundo conseguiria me derrubar com atitudes egoístas e insensatas ou palavras insanas e levianas. Seus olhos se encheram de lágrimas mas mesmo assim continuei. Falei pra ela observar se ali não tava havendo uma cobrança injusta, se era só com a música. Brinquei dizendo que logo ele começaria a falar mal da comida e...batata! Ela confirmou que ele já fazia isso. Conclusão: o problema não é a musicalidade dela e sim o babaca do marido. Pedi desculpas por ter falado tanto e sai com a sensação de ter feito a coisa certa. No final do dia perguntei ao meu irmão se eu não tinha exagerado e ele falou que eu tinha falado bem e acertado na mosca. Concordou com tudo que eu disse. Infelizmente hoje a moça chegou pra ter aula arrasada e pensando em largar o bunda mole. Acabou nem fazendo a aula porque passou o tempo todo desabafando com meu irmão e chorando porque seu marido vai de mal a pior. Passei longe da sala pra não me afetar mais. Chegamos a conclusão que o karma dela é pesado: ter um marido que é pastor mas peca por ser orgulhoso e arrogante, bem mais velho mas que vacila por ser imaturo e insensível, e “músico” que envergonha por ser esnobe e surdo, ninguém merece! Graças a Deus ela não é minha aluna porque se fosse acho que eu levaria serviço pra casa.

Postado ao som de “Parte de Mim” (Gram)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

BRUBAKER

Porque ao longo desses meses que eu estive sem você eu fiz de tudo pra tentar te esquecer. Ja matei você mil vezes e o seu amor ainda me vem. Então me diga quantas vidas você tem? (Paulinho Moska)


Repito como um mantra

Que és fria e vulgar

E no sonho dessa noite

Consegui te desprezar


Com a estória que criei

Consegui me convencer

E durante alguns minutos

Foi mais fácil te esquecer


Suas músicas preferidas

Tocam a todo momento

E acabam com meu dia

Nesse clip que invento


Quero muito duvidar da minha crença

Porque seu silencio confirma a indiferença

Mas meu coração garante que você pensa

E eu sinto muito sentir sua presença


Não quero pedir a Deus

Com essa minha ladainha

Vejo uma guerra na TV

Que é bem mais séria que a minha


Juntei todas as coisas

Que não gosto em você

Pesei tudo com seu sorriso

E entendi meu bem querer


Já que a saudade não passa

Daqui há pouco vou chorar

Aprimorar meu masoquismo

Porque só a dor quer ser meu par


Sei que a cura vem como a idade

Do tempo espero a boa vontade

Desculpe o incômodo com a sinceridade

De você espero ao menos dignidade


Letra escrita em 1999 que fala de ilusão, separação, negação, paixão e outros “aos”.


Postado ao som de “Bedshaped” (Keane)

sábado, 22 de agosto de 2009

PRA NÃO VIRAR ABÓBORA

"Eu queria me mostrar. Cantava para arranjar broto e para mostrar para o meu pai que eu era o bom." (Cazuza)

Ontem fomos com a Rose num bar da Paulicéia pra conhecer o espaço e ver qual o repertório que combina com eles. A Rose trabalhava como promotora de eventos no interior de São Paulo numa cidade chamada São João da Boa Vista. Se mudou pra Diadema faz pouco tempo e logo que chegou começou a aprender contrabaixo na nossa escola com meu irmão. Ela é eclética mas seu forte é o country, estilo que predominava nas bandas que empresariava. Desde o mês passado vem procurando espaços pra gente tocar. Pediu pra banda ir com ela nesse bar pra conversar com o dono e talvez até dar uma canja. Fomos no esquema de power trio: eu, Daniel e Paulo, já que o Henrique (voz, teclado e sax) tava ocupado. Mesmo assim com guitarra, baixo e bateria dá pra montar um repertório extenso, ainda mais se tratando de pop rock e blues. E era esse último o gênero da banda que foi se apresentar lá. O grupo chegou bem atrasado e pra minha surpresa o vocalista era um ex aluno que já havia participado de uma banda de blues que montei há alguns anos. O Alexandre, mais conhecido como “Don King”, me falou que tava tocando ali duas vezes por mês e me mostrou seu repertório que continha vários clássicos de blues e hard rock. Muita coisa legal: B.B. King, Deep Purple, Stevie Ray Vaugham, Led Zeppelin, Me lembrei da época que eu tocava blues. Há uns dez anos atrás montei essa banda só de brincadeira e batizei de “Irmãos Perna de Pau” (fazendo um trocadilho com “Irmãos Cara de Pau”). Nela fui tocar bateria e chamei o Alexandre pra cantar porque achava que seu timbre era diferente e sua voz forte, que às vezes lembrava a JanisJoplin quando berrava ou rasgava. Porém tinha dificuldades pra afinar e isso me fez desanimar depois de alguns shows. Mas o cara tá aí na luta, tentando melhorar na estrada. Isso é que faz a diferença, quer dizer, mesmo sem ser um grande músico o bicho é perseverante e conseguiu reunir com alguns amigos a clássica formação guitarra-baixo-bateria. Assim, com esse trio pra fazer o acompanhamento, tá trabalhando e aprendendo. Como a banda dele demorou muito pra começar e a gente tinha compromisso logo cedo, fomos embora sem dar uma canjinha e sem ver os caras tocando. Mas conhecemos o dono da casa e deixamos engatilhada uma participação ali qualquer dias desses.

Postado ao som de “Tezas Flood” (Stevie Ray Vaugham)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

TRÍADE

"O homem, criatura viva e criador individual, é sempre mais importante do que qualquer estabelecido estilo ou sistema." (Bruce Lee)

Terminei mais 3 canções nesse último fim de semana pensando em vários estilos diferentes. Dessa vez consegui musicar uma letra da Andréia e uma da Larissa. A terceira na verdade já tinha uma melodia pronta. A Ingrid me surpreendeu e criou essa linha melódica pra um texto seu, que apesar de repetitiva, ficou interessante, com um quê de black music. Tentei criar duas partes pra ela e na segunda-feira toquei no teclado pra ela cantar uma harmonia que resolvi experimentar. Parece que deu certo porque ouvindo ficou a impressão de que a música tinha realmente duas partes quando na verdade só o instrumental dividiu os trechos. O Felipe e a Larissa presenciaram a criação e aprovaram. Já a Larissa gostou tanto da música que fiz com sua letra que aprendeu a cantar e a tocar esse som depois de ter me ouvido somente três vezes. Saiu da escola rindo de orelha a orelha. Guria fominha e talentosa essa. Ontem ensaiou novamente com as suas parceiras de banda, Ianca e Gabi, que já começaram a burilar um arranjo pra mais nova cria do repertório delas. Das 3 canções a única que não ficou com o tom definido foi a que fiz em parceria com a Andréia. Como essa é do repertório da banda “Crazy”, que tem como vocalista a própria Ingrid, vou ter que esperar ela ouvir bastante pra aprender a cantar direito pra só assim eu conseguir sacar a melhor altura do seu tom. Depois é só pirar nos arranjos.

Postado ao som de “It’s The Little Thing We Do” (The Zutons)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

EXEMPLO DE VIDA

"Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor." (Wolfgang Amadeus Mozart)

Quando o Paralamas do Sucesso surgiu ali no início da década de 80, fiquei surpreso com o visual daquele guitarrista: de cabelo curto e com um óculos vermelho. Não tinha nada a ver com aquele estereótipo de roqueiro transgressor e doidão. Mas o rapaz com cara de nerd solava muito bem e passei a admirar seu estilo. Em seguida comecei a perceber nas suas entrevistas que seu jeito de se expressar também era diferente. O moço falava muito bem e ainda por cima não usava drogas. Passei a me espelhar nele e assim quis virar um guitarrista caretão sem cabelos longos, nem tatuagens, nem calças de couro. Suas letras também começaram a fazer minha cabeça e suas composições com harmonias mais elaboradas foram uma grande escola pra mim. Lembro que consegui fazer minha primeira pestana tirando a música “Romance Ideal” do segundo disco da banda que saiu em 84. Curtia tanto a banda que mandei uma carta pra gravadora fazendo algumas perguntas pros caras. Pra minha surpresa, pouco tempo depois recebi um cartão com a foto deles, as perguntas respondidas e o autógrafo dos três! Pirei e passei a respeitar mais ainda esse pessoal. Com o tempo fui amadurecendo musicalmente e só assim pude perceber que Herbert Vianna sempre esteve à frente de seu tempo, sendo um precursor de várias fusões de estilos, misturas que seriam imitadas por muitos artistas na década de 90. Conforme fui me acalmando com o instrumento fui enxergando melhor o lado humano, o sujeito romântico, o pai de família. Em todos esses anos ficaram registradas na minha mente declarações como “não uso drogas mas não sou contra quem usa. Cada um sabe onde seu calo aperta!”, ou “Moro no Rio mas morro de medo da violência. Se alguma coisa acontecesse com minha família acho que não teria estrutura pra suportar isso”, ou ainda “sofra por amor e vire um grande compositor!”. Com esses e outros depoimentos, Herbert deixou de ser somente uma grande influência musical pra se tornar uma espécie de guru. Quando seu avião caiu em 2001, fiquei muito triste e não imaginava o que viria acontecer. Quando soube que sua esposa tinha morrido no acidente, lembrei daquela frase dele dizendo que não agüentaria uma tragédia dessas. Mas ele não voltou lúcido logo de cara. Ficou perdido e demorou um pouco pra se recuperar e entender direito o que tinha acontecido. Comecei a achar que ai tinha o dedo de Deus, ou seja, se era o destino da Lucy ir embora naquele momento, sua recuperação lenta foi fundamental pra que ele pudesse assimilar a morte da mulher amada e não se entregar. Talvez eu possa ter viajado nessa história mas acredito nisso até hoje. Quando ele voltou aos palcos num show na MTV, fiquei muito emocionado. Ver aqueles três reunidos novamente me marcou profundamente porque durante algum tempo eu não conseguia visualisar aquela cena com ele cantando e tocando numa cadeira de rodas. Eu nunca tinha visto aquilo. Mas mesmo com alguns solos trastejados e momentos desafinando, achei tudo perfeito. Desde então paro o que tô fazendo sempre que o Herbert aparece na televisão, seja tocando, cantando ou falando. Suas falas ficaram mais reflexivas e sempre remetem a família, irmandade e espiritualidade. Se algum dia me encontrar com ele quero pedir sua benção. Isso seria um sonho realizado. Mas enquanto esse dia não chega vou me contentar em assistir ao documentário “Herbert de Perto” que tá saindo do forno. Resolvi escrever esse texto depois que vi a chamada no youtube. Pra variar fiquei comovido. Se assistindo somente alguns trechos já fiquei chapado, nem sei como vai ser na íntegra. E não entendo porque que toda vez que ouço “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim”, fico muito balançado, mesmo sem ter uma história com alguém. Pois logo assim que assisti no trailer ele cantando um trecho dessa canção, desabei. Foi foda.


Postado ao som de “Cantata no 156 – Arioso – J.S. Bach” (guitarrist korean)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

CONTOS DE FADAS

"No homem, o desejo gera o amor. Na mulher, o amor gera o desejo." (Jonathan Swift)


Ela me disse que sempre sonha com ele

E conta os dias desde que tudo acabou

Saudade e angústia já não lhe consomem mais

Mas não dá pra dizer que tudo passou


Seus planos pro futuro perderam sentido

E a vontade de vencer já não existe

A sua crença e o seu trabalho são sua fuga

Abelha atarefada não tem tempo de estar triste


Ela não se entregou: - a hora não chegou!

E ele não quis só companhia e carinho

Ele não fez isso por mal, só pensou nele

Também confuso foi procurar seu caminho


Quando se acostuma com alguém

É difícil ficar sem e ficar bem

Mas amanhã tem mais

E a gente vê o que faz

E do que será capaz


Sua amiga é legal e dá conselhos

Sua família se preocupa mas já sabe

Que ela não é a primeira e nem a última

Que se apaixona, chora e sofre de verdade


Ela sabe que existe alguém a sua espera

Um amigo que um dia desses se revelou

Mas apesar dele ser um rapaz bacana

Não foi por ele que seu coração disparou


Ela acredita que alguém especial

Um dia vai aparecer em sua vida

Em contos de fada não existe ciúme, mentira,

incompreensão, dor, traição, partida


Quando se apaixona por alguém

Nosso mundo fica zen e o espelho diz amém

Já não se olha pra trás

O que passou tanto fez tanto faz

E a gente fica em paz


Letra escrita pra minha irmã em 2001. Fala de angústia, virgindade, traição, ingenuidade, esperança...


Postado ao som de “Agora Só Falta Você” (Ratto)