quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

OS ENRUSTIDOS

“Dai-me o melhor piano da Europa, mas com um auditório que não quer ou não sente comigo o que executo, e perderei todo o gosto pela execução.” (Wolfgang Amadeus Mozart)


Continuando a retrospectiva do ano passado vou falar hoje de um dos meus projetos mais instigantes. Desde que a escola começou tô querendo reunir alguns alunos pra darem canjas por aí. O problema é que não consigo encontrar um lugar bacana. Em março fizemos uma experiência num bar de um aluno do meu irmão. O bar do Helio fica quase em frente da escola e por ser tão prático, várias vezes descemos com equipamento nas mãos, atravessamos a rua e pronto! Era só armar o circo. Durante 8 sábados fizemos uma bagunça legal por lá. O complicado era o horário e a localização. Sábado depois do expediente, ou seja, depois das 20 h, ninguém tem pique pra mais nada. A gente dá aula o dia todo e nessa hora a gente só quer chegar em casa e relaxar. Mas mesmo assim íamos pelo tesão de tocar e reunir a galera. E pra quem conhece o Pira, sabe que o lugar não é nada atraente nesse horário. Numa área comercial como aquela, depois que escurece, fica parecendo o centro velho de Sampa. Mesmo assim resistimos por um tempinho. Conseguimos batizar alguns alunos e me surpreendi com muita gente. A gente preparava a moçada e muitos se superavam. Teve de tudo: aluno de cavaquinho tocando pop rock na bateria de ouvido, aluna de teclado que mesmo com seus 63 anos cantou e se acompanhou ao violão cantando Beatles e Creedence, um amigo meu que tocou comigo na minha primeira banda nos anos 80 dando uma bela canja no contrabaixo em Eduardo e Mônica com um vocalista que ele nunca tinha visto, outros dois alunos que se conheceram ali e na hora arriscaram um dueto vocal que ficou muito legal... E tudo isso com qualidade! Acabei descobrindo um outro lado de muitos alunos, coisas que eu nem imaginava como o cavaquinhista-baterista ou a tiazinha roqueira. Tão divertido que eu nem sentia o cansaço daquela hora. Uma pena o espaço não ter sido melhor aproveitado: como o dono do bar não vestiu a camisa e não fez nenhuma divulgação, resolvi parar porque senti que a coisa iria crescer mas não teria continuidade por falta de estrutura e incentivo. Terminei numa boa e todos entenderam. Prometi que encontraria um lugar melhor, com um horário melhor num dia melhor. quer dizer, domingão a tarde. Durante os 2 meses que fizemos a salada sonora tocando rock and roll, MPB, blues, samba, pop rock, reggae entre outros, passaram por lá e assistiram ou deram uma palhinha quase 40 pessoas: de ex alunos e parceiros da antiga até a balconista vizinha ou músicos curiosos que caiam de páraquedas no pedaço. Imaginem só o que vai acontecer quando a gente encontrar o nosso Circo Voador? Enquanto não encontro vou ensaiando e preparando meus pupilos.


postado ao som de “Vou Me Entregar Como Nunca” (Edgard Scandurra)

1 comentário:

  1. Se estiver disposto a trazer seus "pupilos"sabe que o Bar do Povo sempre mantêm as portas abertas para a canção Azul, não desanimes pq tens talento Sérgio. Abraço do Zé.

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