terça-feira, 25 de agosto de 2009

ESTRUPÍCIO

"Deus se deixa conquistar pelo humilde e recusa a arrogância do orgulhoso." (Papa João Paulo II)

Na semana passada o Daniel me chamou pra avaliar uma aluna dele de teclado. Enquanto ela tocava ele me perguntou se eu percebia alguma coisa estranha na execução ou algum erro na parte de técnica. Como a aluna tocava fluente e sem nenhum tropeço ou sujeira disse que tava bacana e dei meus parabéns a ela. Meu irmão então falou que só tinha me chamado mesmo pra convencer a moça de que ela tava tocando bem. Foi ai que percebi do que se tratava porque meu irmão já tinha comentado dessa aluna. O que acontece é que ela é casada com um pastor evangélico que tem quase o dobro da sua idade e se diz maestro. Não sei se pela idade ou por causa da educação, o sujeito é muito rígido e conservador e vem implicando muito com ela ultimamente. O chato é que ele tem sido tão áspero e tão rude que tá deixando a pobre coitada com a auto estima lá embaixo e desanimada com o curso. Ela é bonita, educada, tem 30 anos mas com cara de menina, esbanja simpatia e me parece ser uma pessoa simples e pacata. Mesmo assim o “maestro” não dá folga: diz que ela tá tocando tudo torto e sem ritmo, que tá uma porcaria, que ela é um zero a esquerda mais o diabo a quatro. Fiquei irritado e tentei me segurar, mas não teve jeito: eu, que ultimamente tenho praticado mais a auto-observação pra não ficar me metendo na vida dos outros e nem ficar falando merda pra não ser desagradável ou incoveniente, acabei rasgando o verbo. Maldita hora que meu irmão me chamou. Pedi pra ela se olhar no espelho. Tentei levantar sua moral sem falar mal do marido. Sugeri entre outras coisas que ela se gravasse pra perceber o quanto tava tocando bonito. Aí acabei saindo da música e falando demais quando falei da minha vida. Pensei que se talvez ela se identificasse com alguém parasse de se torturar e levantaria a cabeça. E como sempre faço botei o orgulho no bolso e me expus um pouco. Falei de situações que vivi e fiz um revival: falei que fui criticado de graça, balancei mas resisti, que depois de me maltratarem pensei em jogar a toalha mas acreditei que poderia mudar a situação, que depois de várias brigas onde eu era o acusado percebi que eu não era o vilão, que precisei ouvir elogios e palavras de conforto de terceiros pra eu poder me enxergar, que passei a aceitar melhor minhas falhas mas também me valorizar percebendo minhas qualidades, que parei de dar bola pra torcida e assim respeitar mais minha sensibilidade e minha fragilidade, enfim, que a duras penas aprendi que eu era a pessoa mais importante pra mim e ninguém no mundo conseguiria me derrubar com atitudes egoístas e insensatas ou palavras insanas e levianas. Seus olhos se encheram de lágrimas mas mesmo assim continuei. Falei pra ela observar se ali não tava havendo uma cobrança injusta, se era só com a música. Brinquei dizendo que logo ele começaria a falar mal da comida e...batata! Ela confirmou que ele já fazia isso. Conclusão: o problema não é a musicalidade dela e sim o babaca do marido. Pedi desculpas por ter falado tanto e sai com a sensação de ter feito a coisa certa. No final do dia perguntei ao meu irmão se eu não tinha exagerado e ele falou que eu tinha falado bem e acertado na mosca. Concordou com tudo que eu disse. Infelizmente hoje a moça chegou pra ter aula arrasada e pensando em largar o bunda mole. Acabou nem fazendo a aula porque passou o tempo todo desabafando com meu irmão e chorando porque seu marido vai de mal a pior. Passei longe da sala pra não me afetar mais. Chegamos a conclusão que o karma dela é pesado: ter um marido que é pastor mas peca por ser orgulhoso e arrogante, bem mais velho mas que vacila por ser imaturo e insensível, e “músico” que envergonha por ser esnobe e surdo, ninguém merece! Graças a Deus ela não é minha aluna porque se fosse acho que eu levaria serviço pra casa.

Postado ao som de “Parte de Mim” (Gram)

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