terça-feira, 18 de agosto de 2009

EXEMPLO DE VIDA

"Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor." (Wolfgang Amadeus Mozart)

Quando o Paralamas do Sucesso surgiu ali no início da década de 80, fiquei surpreso com o visual daquele guitarrista: de cabelo curto e com um óculos vermelho. Não tinha nada a ver com aquele estereótipo de roqueiro transgressor e doidão. Mas o rapaz com cara de nerd solava muito bem e passei a admirar seu estilo. Em seguida comecei a perceber nas suas entrevistas que seu jeito de se expressar também era diferente. O moço falava muito bem e ainda por cima não usava drogas. Passei a me espelhar nele e assim quis virar um guitarrista caretão sem cabelos longos, nem tatuagens, nem calças de couro. Suas letras também começaram a fazer minha cabeça e suas composições com harmonias mais elaboradas foram uma grande escola pra mim. Lembro que consegui fazer minha primeira pestana tirando a música “Romance Ideal” do segundo disco da banda que saiu em 84. Curtia tanto a banda que mandei uma carta pra gravadora fazendo algumas perguntas pros caras. Pra minha surpresa, pouco tempo depois recebi um cartão com a foto deles, as perguntas respondidas e o autógrafo dos três! Pirei e passei a respeitar mais ainda esse pessoal. Com o tempo fui amadurecendo musicalmente e só assim pude perceber que Herbert Vianna sempre esteve à frente de seu tempo, sendo um precursor de várias fusões de estilos, misturas que seriam imitadas por muitos artistas na década de 90. Conforme fui me acalmando com o instrumento fui enxergando melhor o lado humano, o sujeito romântico, o pai de família. Em todos esses anos ficaram registradas na minha mente declarações como “não uso drogas mas não sou contra quem usa. Cada um sabe onde seu calo aperta!”, ou “Moro no Rio mas morro de medo da violência. Se alguma coisa acontecesse com minha família acho que não teria estrutura pra suportar isso”, ou ainda “sofra por amor e vire um grande compositor!”. Com esses e outros depoimentos, Herbert deixou de ser somente uma grande influência musical pra se tornar uma espécie de guru. Quando seu avião caiu em 2001, fiquei muito triste e não imaginava o que viria acontecer. Quando soube que sua esposa tinha morrido no acidente, lembrei daquela frase dele dizendo que não agüentaria uma tragédia dessas. Mas ele não voltou lúcido logo de cara. Ficou perdido e demorou um pouco pra se recuperar e entender direito o que tinha acontecido. Comecei a achar que ai tinha o dedo de Deus, ou seja, se era o destino da Lucy ir embora naquele momento, sua recuperação lenta foi fundamental pra que ele pudesse assimilar a morte da mulher amada e não se entregar. Talvez eu possa ter viajado nessa história mas acredito nisso até hoje. Quando ele voltou aos palcos num show na MTV, fiquei muito emocionado. Ver aqueles três reunidos novamente me marcou profundamente porque durante algum tempo eu não conseguia visualisar aquela cena com ele cantando e tocando numa cadeira de rodas. Eu nunca tinha visto aquilo. Mas mesmo com alguns solos trastejados e momentos desafinando, achei tudo perfeito. Desde então paro o que tô fazendo sempre que o Herbert aparece na televisão, seja tocando, cantando ou falando. Suas falas ficaram mais reflexivas e sempre remetem a família, irmandade e espiritualidade. Se algum dia me encontrar com ele quero pedir sua benção. Isso seria um sonho realizado. Mas enquanto esse dia não chega vou me contentar em assistir ao documentário “Herbert de Perto” que tá saindo do forno. Resolvi escrever esse texto depois que vi a chamada no youtube. Pra variar fiquei comovido. Se assistindo somente alguns trechos já fiquei chapado, nem sei como vai ser na íntegra. E não entendo porque que toda vez que ouço “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim”, fico muito balançado, mesmo sem ter uma história com alguém. Pois logo assim que assisti no trailer ele cantando um trecho dessa canção, desabei. Foi foda.


Postado ao som de “Cantata no 156 – Arioso – J.S. Bach” (guitarrist korean)

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