sexta-feira, 19 de junho de 2009

URUBU NA CARNIÇA

"Tudo se rende ao sucesso e a arte, até a gramática." (Victor Marie Hugo)

Ganhamos um vizinho novo aqui no prédio. Ele tá numa sala ao lado da nossa escola e é candidato a vereador pelo PPS nas próximas eleições. Seu primeiro contato com a gente foi com meu irmão. Pelo fato desse moço ser evangélico gostou de saber que a gente tava organizando uma audição gospel e até se ofereceu pra ajudar. Falou que tinha vontade de montar um festival grande com artistas desse meio e queria incluir gente pra abrir. Achei uma viagem do cara mas como não conheço bem esse ramo fiquei na minha. Outro dia meu irmão comentou com ele que eu tinha um projeto cultural onde apresentava várias idéias pra vários setores da cultura. Ele se interessou e me pediu pra dar uma olhada. Mostrei o documento sem criar muita expectativa porque fiquei meio pessimista depois que apresentei ao Multishop, não obtive nenhum retorno e ninguém se interessou. A papelada tava engavetada desde o início do ano e eu tava pensando em dar uma nova mexida nela pra correr atrás de algumas empresas nesse segundo semestre. Pois assim que deu uma olhada no texto o cara se empolgou de tal forma que até chamou outras pessoas pra avaliar o documento. No dia seguinte ele trouxe um coroa amigo do meio jornalístico que tava com o seu filho, um nerd fera em computador que me chamaram pra conversar e me dar sugestões. Falaram que as idéias eram muito boas e queriam fazer aquilo chegar às mão da nova secretária de cultura Maria Regina Ponce. Fiquei surpreso com tamanho interesse mas me perguntei: será que então eu não tava viajando com aquelas idéias do projeto e finalmente encontrei pessoas que entenderam minha proposta e meu objetivo? A coisa começou a ficar esquisita quando começaram a falar que eu teria que cortar alguns trechos porque tava sofisticado demais. Porra, se vou enviar um projeto pra um pessoa da cultura eu tenho que medir palavras pra não confundir a cabecinha da pessoa que deveria ser a mais antenada do meio? Falavam que eu tinha que pensar no povão e muitas das minhas idéias não caberiam na prefeitura. Lembrei do saudoso Francisco Milani com seu bordão “comigo é no popular” mas evitei a piadinha. Como não sou do ramo, aceitei as sugestões na boa, argumentei em alguns momentos mas no final da história dei uma limpada no texto tirando uns 60% do projeto original. Nãotinha nada a perder mesmo. O velho veio aqui no dia seguinte e me ajudou a refazer os tópicos mas manteve a estrutura principal. Ficaram de levar pra prefeitura e pro novo shopping de Diadema. No outro dia. quando o candidato a vereador me procurou pra perguntar sobre o que eu tinha achado do seu amigo e das suas idéias, respondi que o cara parecia saber do que tava falando. Mas lembrei a ele que pra quem quer ser eleito pensar só no povão pode ser perigoso. No “Procuca” eu abria espaço pra música popular radiofônica em todas as vertentes pensando no jovem ou na tiazinha que só conhece música de novela, mas também pensava na moçada mais cabeça que curte um som instrumental ou nos bicho-grilos que querem ouvir novidades como músicas próprias ou um som mais de vanguarda. E como essa segunda parte toda foi arrancada lembrei ao meu novo vizinho que a Marta Suplicy só não foi reeleita em 2005 porque priorizou a periferia e os pobres. Quem elegeu o Serra foi a classe média, ou seja, os mais informados e exigentes. Ele ficou ouvindo e depois de um tempo pediu pra eu lhe fazer uma segunda versão, do meu jeito. Esse não quer perder a próxima eleição nem fodendo.

Postado ao som de “Cherish” (Madonna)

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