domingo, 21 de junho de 2009

TRIO PARADA DURA


"Respeito a religião e quem acredita. Gosto das histórias, mas não tenho essa fé. Cheguei a receber formação religiosa. Sou de Minas Gerais, fui criada em Belo Horizonte. Fui batizada, crismada, fiz primeira comunhão e até os 18 anos ia à missa todo o domingo. Foi na igreja que comecei a cantar. A religiosidade acabou com a leitura da Bíblia. Comecei a achar que era muita fantasia, quando soube que tinha sido escrita em aramaico e traduzida para o latim. Para fazer a tradução o cara interpretou demais." (Cássia Eller)

Ontem recebemos a vista de um pessoal de uma igreja de um casal de alunos meus. Mesmo sabendo que sou cabeçudo e teimoso com minhas convicções, eles pediram pra me visitar e eu topei. Como prometido a reunião foi curta, uns quarenta minutos. O rapaz que liderou o trio começou com uma oração e depois começou a falar da mudança que devemos fazer em nós mesmos. Apesar da dificuldade que ele tinha de se expressar por não saber respeitar as concordâncias, conjugar os verbos ou mesmo trocar palavras, me concentrei no conteúdo de suas mensagens que pra mim era o mais importante. Ele continuou dizendo que as mudanças tinham que acontecer de dentro pra fora e até ai fui concordando com o cara que em alguns momentos me lembrava o Seu Creysson. Ai começou a falar do amor de Deus, que Ele mandou seu filho Jesus pra nos salvar, o velho clichê. Deixei ele falar e quando perguntou como se fazia pra começar essa mudança que era aceitar o filho do Homem como seu salvador comentei que isso era o primeiro passo mas o processo era complicado, que não era simplesmente ir a igreja, lvantar a mão ou admitir ser um pecador. Percebi que ele ficou impaciente e começou a se perder no seu discurso inicial. O que mais me incomodou nesse moço não foi a falta de capacidade de discursar com seu vocabulário limitado mas sim seu jeito convencido de que tem as respostas pra tudo. Diferente do meu casal de alunos que são simpáticos, abertos e com senso de humor. Quando perguntei se ele teria todas as respostas e ele disse que sim, perguntei porque então quando Jesus foi perguntando sobre qual era a verdade Ele se calou. Num primeiro momento ele me perguntou onde tava escrito isso. Falei que foi naquele trecho onde narram o momento em que Pilatos fazia o interrogatório. Ele saiu pela tangente dizendo que Jesus não respondeu porque de nada adiantaria, eles não entenderiam. Ué, se na hora mais importante que era pro Homem falar quem ele era e o que fazia ali, Ele não respondeu? Eu quis mostrar a ele que nem sempre a gente tem as respostas pra tudo ou mesmo tendo, as vezes a gente tem que ficar quietinho. Mas ele não abaixou a cabeça e continou falando outras coisas. Quando falou que Jesus veio ao mundo porque no antigo testamento Deus olhou pra Terra e não viu ninguém a altura pra levar a mensagem, então resolveu mandar seu filho. Pô, mas desde o início do mundo a vinda do Messias não era anunciada e esperada? É foda, cada um fala uma coisa e eu fico mais decepcionado. Por isso desencano de querer explicar Deus e suas atitudes, tento fazer minha parte e deixo na mão Dele a decisão final. Quando o pessoal falou que o antigo testamento era só uma sombra eu não entendi. Como assim só uma sombra? Então a gente deveria negar ou ignorar tudo que aconteceu lá? E os exemplos? E as histórias? E os grandes homens como que passou maus bocados e não perdeu sua fé. Tudo isso se resume a sombra? O que ele quis dizer com isso? Quando perguntei de Moisés que foi um cara fodão que tirou seu povo da escravidão do Egito, recebeu os dez mandamentos, abriu o mar vermelho com sua fé, o rapaz me disse que Moisés era passado, que eu tinha que me concentrar no presente e em mim! Dá pra entender? Me irritei um pouco e falei que se Moisés era passado Jesus também não era? (sem querer comparar, é claro!) Eles olhavam impacientemente pro relógio porque já tinha dado a hora deles e evitei ficar questionando o pessoal. Percebi que o figura tava frustrado e chegou a comentar que não tinha conseguido nada com sua visita. Normal. Minha aluna falou que eu tava tendo a oportunidade de ter o conhecimento e tava desperdiçando. Respondi dizendo que eu acreditava que a gente poderia aprender também no nosso dia a dia porque Jesus mora também nos detalhes, e que os anjos sempre estão por perto dando uns toques, ou seja, é uma questão de sensibilidade, de estar aberto, de sacar o lance. Ela discordou. Fazer o quê? Tava desencanado mas quando ela falou com minha mulher que a gente tinha que primeiro cuidar da gente pra depois pensar nos outros, me meti na conversa e falei que isso era relativo pois se eu tivesse no fundo do poço e tirasse o resto de comida que tivesse pra dar pra uma criança que morre de fome saberia que deixaria Deus contente. (Pelo menos nesse Deus que acredito). O “líder” riu e disse que eu olhava muito pro lado materialista! É mole? Só peço a Deus que me perdoe na minha infinita ignorância e me dê paciência e sabedoria pra entender onde esse povo doido quer chegar com esse discurso incoerente mesmo que com a melhor das intenções. Ah, e que Deus ilumine também seus caminhos e suas mensagens porque essas de hoje não rolaram.

Postado ao som de “Rodo Cotidiano” (Maria Rita e o Rappa)

1 comentário:

  1. Taí um assunto que se eu posso, evito: religião. Assim como política. Afinal, desde que existe um único Deus existem guerras em nome Dele...

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