sexta-feira, 11 de setembro de 2009

AS APARÊNCIAS ENGANAM

"Fantástico. Agora vocês todos já podem tirar a máscara e ir dormir." (Raul Seixas)


Hoje dei aula pra um baterista autodidata que cada dia me surpreende mais. O rapaz faz parte de uma igreja católica e tá sempre tocando por lá, mas como o cara é cearense sua grande influencia é o forró. Executa muito bem várias levadas diferentes nesse estilo. Quando ele me mostrou a condução mais comum de grupos como Aviões do Forró, percebi uma coisa interessante e comentei com ele. É que a acentuação rítmica desse forró moderno é bem parecida com a acentuação da abertura da novela das oito. A música, que foi tirada do filme Omkara, uma produção da Índia de 2006 que adapta a tragédia ′Othello′, de Shakespeare, segue os padrões da música oriental: com escala diferenciada suas melodias melancólicas são conseqüência de semitons e quarto de tons existentes entre uma nota e outra. Pois só fui incorporar essa e outras canções dessa trilha sonora porque nessas últimas semanas resolvi sair da rotina pra me distrair e acabei acompanhando a reta final da novela. Eu, que normalmente não tenho paciência pra novela por perceber muitos furos e muita forçação de barra, acabei me supreendendo comigo mesmo. Talvez por estar um pouco fragilizado nesse momento acabei me sensibilizando com alguns personagens e me emocionei em quase todos os capítulos que assisti. Foi uma surpresa ver a interpretação da atriz Juliana Paes nessas últimas cenas. A moça deu um show e mostrou que não é só um corpinho bonito. Outra fera que matou a pau foi o ator Bruno Gagliasso que com seu personagem esquizofrênico teve destaque merecido no último capitulo que rolou hoje. E assistindo a esse final percebi um fato curioso: nunca tinha visto tanto corno numa novela. Apesar de clichês como a reviravolta do mocinho contra o vilão, personagens com sotaque ou a descoberta daquele filho desconhecido, a novela mandou bem ao mostrar traições de todos os tipos acontecendo nas famílias de quase todos os personagens. E mesmo retratando o contraste das duas culturas a trama mostrou que até no oriente, onde os valores e as crenças são diferentes, existe falsidade e sacanagem da boa. Teve de tudo: do marido criando o filho do outro até a esposa que dopa o marido pra cair na gandaia. Mas talvez a pior traição tenha sido aquela sofrida pela personagem da Débora Bloch: seu marido lhe traiu com sua melhor amiga! E assim caminha a humanidade. As novelas às vezes servem pra nos mostrar o que nós realmente somos e do que somos capaz . Deixam de ser somente um entretenimento pra ser um retrato fiel da sociedade em que vivemos. Elas lembram a mim e a você amigo leitor, que, ativa ou passivamente, voluntária ou involuntariamente, fazemos parte desse circo. Que mesmo com uma visão cristã da vida podemos ter nossos desvios de conduta. E às vezes o conteúdo dói. Assim como em “Beleza Americana”, pode funcionar como um tapa na cara dos hipócritas e falsos moralistas.


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