quinta-feira, 19 de março de 2009

PROFESSORA ELIETE

“A morte, para chamá-la por seu nome, é a real finalidade de nossa vida. Por isso é que de uns anos pra cá fiz relação com esta verdadeira amiga do homem.” (Wolfgang Amadeus Mozart)

Fiquei meio chateado hoje cedo. Fiquei sabendo por acaso, através de um aluno, que a pianista, professora e fundadora do Musical Eliete tinha falecido. A escola que ela montou é uma das mais antigas do ABC e tá em atividade há quase 40 anos. Tive a honra de conhecer essa grande mulher e trabalhar pra ela. Eu já sabia que ela tava bem doente, com diabetes, e que tava praticamente cega e por isso não me surpreendi tanto com a notícia. Mas a tristeza é por lembrar dela como uma senhora simpática que, apesar do pouco contato que tinha comigo e de conhecer bem pouco da minha pessoa, sempre me tratou com respeito e muito carinho. Quando ela vinha toda sorridente pra mim e me abraçava fazendo elogios ao meu trabalho eu ficava orgulhoso mas sem graça porque sabia da sua fama: ela foi durante muitos anos uma daquelas professoras linha dura, bem conservadora, que não admitia de jeito nenhum que um de seus professores saísse da grade da programação ou usasse outra metodologia que não fosse a sua. Fiquei sabendo que ela mudou muito ao longo dos anos pois foi vendo que a gente tinha que se moldar conforme o aluno e ser mais flexível na hora de negociar o repertório e passar as matérias. Meu último contato com ela foi no final de 2007, na audição da sua escola. Lembro muito bem do momento em que ela me chamou. Eu tava tirando foto com uma funcionária da escola e ela veio me cumprimentar. Como sempre, fiquei com vergonha e sai logo. Ela foi tirar uma foto com essa mesma funcionária e foi embora. Foi aí que me toquei: eu não chamei o fotógrafo (que ficava disponível pra gente o tempo todo) e perdi minha chance de registrar aquele momento com ela. Como sabia de sua doença, ali na hora tive raiva de mim pelo meu vacilo e lamentei pois no meu íntimo eu sabia que não teria outra chance. Infelizmente eu tava certo. À Dona Eliete, que dedicou sua vida ao ensino da música, quero agradecer pela oportunidade que me deu de trabalhar e aprender mais sobre esse ofício.

Postado ao som de “Bittersweet Symphony” (Verve)

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