segunda-feira, 9 de março de 2009

MINHA KLIPTONITA


"Quando você pode transar com todas as mulheres do mundo, tudo fica meio sem graça."(Liam Gallagher)


Ontem foi o dia internacional da mulher. Pensei em vir aqui e encher a página com grande nomes da nossa música ou de vários talentos que me influenciaram, mas não o fiz. Também pensei em deixar um recado bem carinhoso pra minhas alunas, amigas e outras que tanto adoro mas também desisti. Aí fiquei pensando no que todas elas representaram e representam na minha vida e comecei a fazer uma retrospectiva pra tentar entender porque gosto demais dessa raça que faz tanta diferença na vida da gente. E descobri que minha história com elas sempre foi bem difícil. Desde o início as coisas foram complicadas. Quando nasci, minha mãe, uma menina de 17 anos do interior de Minas Gerais, não tendo a menor idéia de como cuidar de um bebê, chamou minha tia, irmã do meu pai, pra ajudar a cuidar de mim. Apesar de ser mais velha, a coisa toda não deu muito certo: num dos meus banhos diários ela me deixou cair da banheira e até hoje não sei direito quais as seqüelas dessa queda. Ou seja, quebrei a cara logo cedo por causa delas. Mais tarde, já mais "maduro", conheci uma outra tia adolescente e safadinha que resolveu me molestar sexualmente. Ela quis me fazer de seu brinquedinho quando eu tava no auge dos meus 5 aninhos. Quando nos visitava, de madrugada ela me acordava pra fazer minha mão passear pela mata do governo e pelo Pico do Jaraguá. Eu não tinha muita noção do que era exatamente aquilo mas lembro que era bom. Uma sensação estranha e gostosa que normalmente uma criança dessa idade não experimenta. E eu até queria mais mas nem sabia o quê. Depois disso, passei a olhar as mulheres um pouquinho diferente. E isso começou a se manifestar até nas minhas brincadeiras de filho único. Quando ganhei meu Forte Apache aos 6 anos eu não queria saber de guerra e nem dos soldadinhos matando os índios. Eu sempre fazia com que eles ficassem numa boa e não via a hora da brincadeira terminar. É que no final da história o capitão sempre levava a índia mais bonita pra um passeio nas montanhas. Lá os meus dois bonequinhos faziam amor sem culpa. Aos 7 anos conheci Adriana que por ser a mais velha da nossa turminha era a mais entendida em assuntos de adultos. Sua mãe era separada e sempre levava seus namorados pra casa. A menina aprendeu direitinho vendo os namoricos da mama e quis colocar em prática comigo e com meu amiguinho Eduardo. E lá fomos nós pro terraço daquele prédio de dez andares fazer saliência. Desde sempre mimado quis ser o primeiro mas Eduardo reclamou. Fiz cú doce e blefei dizendo que se eu não fosse o primeiro eu não queria. Os dois entraram na minha. Assim tive minha primeira experiência sexual. Ou quase isso. Sem saber direito como fazer, deitei sobre a menina e apontei meu pintinho pra sua perereca lisa e branca. Deitei com cuidado pra não perder a mira e assim não sair nada errado. A direção foi perfeita mas como eu não sabia que o encaixe também fazia parte da mecânica do negócio, o movimento de vai e vem sobre ela logo perdeu a graça e com mais ou menos uns 2 minutos me levantei e fui embora. Então era isso? Que merda! Mas por causa dessas primeiras situações na minha primeira infância cresci um menino inquieto e sempre fica meio deslocado quando o assunto era mulher. Quando me apaixonei por Ana Lucia, uma menina de 8 anos da minha turma da escola, meus pais se separaram. Fui morar num bairro distante e não sabia o que era pior: ver meus pais se distanciando ou ficar longe do meu amorzinho. Sai de um bairro com praia, naquela bela zona sul do Rio sem a violência que existe hoje e fui morar num distante subúrbio perto da linha do trem onde a malandragem ficava mais próxima, a vida era mais precária e difícil e as meninas eram bem mais assanhadas. Mesmo assim fui me retraindo por causa da minha situação: morava mal, não tinha amiguinhos como Eduardo, Ana Lucia e Adriana, minha mãe que não me orientava nem me passava valores, ficou namoradeira e quase me causa um complexo de Édipo. Foi no meu aniversário de 8 anos que tive minha primeira crise existencial mas obviamente nem sabia o que era depressão. Comecei a me tornar uma criança introspectiva e ao entrar na adolescência comecei a ter dificuldades com as meninas por causa do meu complexo de inferioridade que começava e se desenvolver. E foi sem querer, com a água, que descobri uma forma de me distrair e suprir a falta de contato com as garotinhas. Assim como Dorival Caymmi, que teve sua primeira “transa” num rio quando a água bateu de jeito lá na zona do agrião, também descobri sozinho aquela sensação maravilhosa com a água do chuveiro, com aquele jatinho d´água batendo no lugar certo. Se somente com aquela torneira eu ia aos céus imaginei então como seria se eu tivesse um melhor controle da situação, manuseando o meu amiguinho? E foi assim que descobri a masturbação que passou a fazer parte da minha rotina, minha grande companheira. Como a testoterona aumentava e cada ventinho que batia ali já me deixava naquele estado, me tornei um onanista profissional chegando a ganhar um segundo lugar num campeonato que aconteceu na minha rua. E pro meu azar, no meu quarteirão e na nossa turma praticamente não existia meninas da nossa idade. Assim, além de algumas mamães e irmãs mais velhas de alguns amigos, eu me acabava “homenageando” a Vera Fisher, a Magda Cotrofe ou a Monique Evans com minha coleção de Playboy e Ele e Ela. Com isso minha luxúria foi crescendo e minha timidez também. Começaram os amores platônicos. E o incrível é que mesmo sendo o baixinho pobretão, meio bichinho-do-mato eu era requisitado pelas meninas ou sempre ganhava os brotos só com meu olhar de peixe morto. O tal olhar 43 que eu adorava lançar era só pra minha auto afirmação, mas na hora da verdade, de chegar junto mesmo, eu fugia com medo. Então sofria a pressão dos amigos e das próprias garotas. Cheguei a ser chamado de otário por uma gata na frente da minha turma que não deixava barato. Como na época eu já exercitava meus dotes de ator, esnobava: “ela não faz meu tipo!” Mentira. Por dentro eu morria de vontade de ir lá. Mas várias dessas gurias tempos depois passavam por mim ou grávidas ou totalmente zoadas por drogas ou por terem se envolvido com algum delinquente ou com algum cafajeste. Bendita timidez?! Mas sofri pra valer com minha primeira grande paixão: Andréia Amaral. Eu tinha dezesseis e ela quatorze. Nunca consegui falar com ela mesmo depois de meses de recadinhos, olhares, flertes e insistência da parte dela. Meu caso era sério e eu não tinha com quem conversar ou amigos pra me ajudar. A vergonha da minha família e o medo de não corresponder as expectativas dela eram meus grandes inimigos, o que me bloqueava. Por causa dela aprendi a criar minhas historinhas e fantasiar pra segurar a onda. Molhei muitas vezes meu travesseiro ouvindo Tolices e comecei a descobrir ali que eu tava só, não tinha um irmão mais velho e que tinha que superar tudo sozinho e na raça. Na escola também era um dilema. Até amigo me dava esporro. “Porra cara, não tá vendo que aquela mina tá te dando o maior mole?” E eu cagão e dissimulado: “É sério?” E o curioso é que nessa época eu nunca conseguia bater uma bronha pra garota que eu gostava de verdade. Ela era sagrada. O cinco contra um rolava pra todas as suas amigas mas nunca pra ela. Ela era minha princesinha e eu a respeitava. Mas tudo só ficava na teoria. E as paixões se sucediam. Eu me apaixonava quase todo dia: no ônibus, na fila do banco... E assim segui invicto por um tempo até que uma vizinha um pouco mais velha que eu e irmã de um grande brother me ajudou a começar minha vida sexual. A primeira vez foi uma merda apesar dela ser bonitinha e muito legal. Não chegamos a namorar mais ela foi importante na minha estréia. Mesmo assim continuei fechado pras mulheres, tentando pelo menos ser cantor de churrascaria. Mas como sempre odiei ficar mentindo ou tentando passar uma coisa que não era, nunca fui um bom chavecador. A música já era minha fuga e encontrei naquela geração 80 muitas canções que eram a minha vida, letras como que feitas na medida pra mim. Eu não tava sozinho. Com as poucas namoradas sérias que tive descobri que eu era um sujeito diferente da minha turma. Aí lembrei e entendi porque sempre era o escolhido deles pra ser o companheiro, o conselheiro ou o muro de lamentações nas horas em que o bicho pegava com a família ou com as minas: eu era o mais sensível da galera. E por esse meu jeito, nos meus relacionamentos sempre fui a mulher da relação. E quase sempre sofria mais que elas quando tudo acabava. Aí entrava novamente a música. Meus ídolos me consolavam e assim comecei a escrever minhas letras. Lembrava do Herbert Vianna falando que pra você se tornar um grande compositor basta sofrer por amor. O tempo passou, fui conhecendo melhor as mulheres e me descobrindo também. Entendi que o carente profissional que me tornei devo a minha história com minha família, principalmente com minha mãe. Fiz psicanálise, psicodrama mas isso não me ajudou muito. Foi a vida, foram as porradas e as desilusões que me ensinaram. Foi a estrada que me fez melhorar. Fui meu irmão, meu pai, meu padre, meu psicólogo, meu pastor, meu amigo. Superei sozinho muitos grilos e assim puder curtir melhor as mulheres e conduzir melhor as relações. Nunca abri mão de discutir relação e descobri que, definitivamente, não sou de Marte. Trai, fui traído. E talvez na única vez que ganhei chifres, valeu por muitas. Foi com uma doida chamada Érika, com quem pirei e namorei seis meses. Ela conseguiu uma grande proeza: como tinha a Pomba-Gira, durante o tempo em que namoramos ela saiu com o padeiro, o açougueiro, o jornaleiro, o leiteiro e até com o cara do churrasquinho grego! Como sempre, fui o último a saber. Quis matar. Quis morrer. Amadureci uns dez anos em um mês e fiquei bem mais forte. Mesmo assim não perdi a esperança de encontrar uma mulher bacana, nem perdi meu romantismo. Também continuei tarado e os cinco fariseus contra um judeu fazendo ele vomitar o que ele não comeu continuaram fazendo parte da minha vida. (e desconfio que isso talvez fique sendo por muito tempo ainda minha válvula de escape). Passei a desejar mais e mais as mulheres sem deixar de me apaixonar fácil. E observando mais detalhadamente suas nuances, seu comportamento, passei a valorizar e perceber mais detalhes que até então passavam batido. Até cataloguei os tipos de mulheres e hoje classifico em 3: a mulher-pintinho que é aquela que você quer pegar, com muito cuidado e carinho, colocar no colo, fechar dentro da sua mão, ficar só acariciando, catando piolho, cheirando, beijando. E isso basta. Tem a mulher misto-quente que é aquela que faz bem aos olhos e mesmo com o cheiro bom que você quer ficar sentindo por um tempo, dá água na boca e você come mesmo sem ter fome. E come devagarinho porque aquele momento é tão gostoso que você não quer que acabe logo. Talvez o tipo ideal porque você consegue conciliar a violência do sexo com a delicadeza do amor. Uma espécie de Branca de Neve ninfomaníaca, talvez, quem sabe?! E por último a mulher-furacão que é aquela femme fatale que a gente olha e não consegue pensar em outra coisa. É capaz de ficar de pau duro só dando uma olhada na sua foto 3x4. Quer pegar, apertar, arranhar, morder, bater, chupar, puxar o cabelo, jogar na parede, xingar e fazer o cabelo-barba-bigode. E sem culpa! Mas acho que esse tipo é aquele que, normalmente, depois do fato consumado, você olha pro lado e diz: “Putz! O que é que eu tô fazendo aqui?” Depois que casei fiquei mais calmo, menos desequilibrado. No período em que me concentrei mais na música e fui estudar sério, aquilo me fez um bem danado, e eu não tinha muitos olhos pras mulheres. Mas como quem é rei nunca perde a majestade, com o tempo fui voltando a "secar" esse pessoal. E nesse processo outra descoberta maluca é que conforme fui envelhecendo fui ficando extremamente sensível com tudo. Um belo exemplo é quando esbarro com aquele tipo Cinderela: carente, bonitinha (ou não!), sofrida, tímida, sonhadora e cheia de amor pra dar: fico mal. E se chorar na minha frente então, fodeu, caio de quatro! Freud explica? Mas depois de alguns tropeços, sufocos, conflitos e paixonites (já tô quatro anos, oito meses e vinte sete dias sem amolecer meu coração!) hoje em dia tô mais centrado, mais tranqüilo e auto-observação e o auto controle tem me ajudado bastante. E se mesmo dando aula pra uma garota de programa que vai pra aula toda cocotinha e assanhada, e se mesmo quando uma bela balzaca me pára na rua, pede o número do meu celular e me convida pra dançar um forró, e se mesmo quando uma aluna bonita e inteligente, mas infelizmente uma mulher mal amada e mal casada, pega na minha mão e diz que me ama, se mesmo depois dessas e outras eu continuo firme e forte, é sinal de que as brigas entre Klovis e Calel já não são mais como antes e as coisas agora são diferentes. Acho que tô me dando bem porque talvez Calel seja atualmente diretor de algum presídio e Klovis seu detento (só espero que o Klovis não fique assistindo Prision Break!) Confesso que ainda sinto inveja do Salomão mas ainda pretendo me tornar um Fabio de Mello. Por isso tento viver um dia de cada vez sem me deixar tombar. Mas por enquanto, com o adesivo do Pânico eu acho que iria em 8 a cada 10. É que continuo curtindo aquela música do Caetano e admirando a beleza das fofoletes e das coroas. Não ligo pra estrias, celulites, sombrancelhas grossas, bunda de tábua, pneuzinhos. Não importa se tem cabelo de seda, pixaim, grisalho ou pintado. Se tá de jeans largo e surrado ou de vestido novo e bonito. Da índia, da morena queimada de praia, da sardenta até a branquela tipo queijo minas; da mocinha espinhenta com aparelho, passando pela gatona com sombra e batom até a mamãe sem maquiagem e de óculos. Eu olho pra todas sem me reprimir e consigo enxergar beleza na sua maioria. Mas aprendi com uma frase do Padre Marcelo Rossi que evitar a queda fica mais fácil evitando o contato. Por isso normalmente não abraço nem beijo as mulheres, ficando no máximo num aperto de mão. Isso porque o perfume incomoda, o decote incomoda, o toque incomoda. E se a arrumada no cabelo, o timbre e a entonação da voz, a ajeitada no sutiã, o olho no olho, o sorriso ou mesmo a risada balançam e mexem com a gente, é só pensar nas atrocidades do mundo ou qualquer outra bosta pra desconcentrar. Aqui não é o deserto e eu não sou Jesus. O ideal seria nem pensar mas como isso é praticamente impossível, eu penso por alguns segundos (ou minutos, vai!) mas paro por aí pra não gerar sentimento, que vai gerar ação, que vai gerar conseqüência... Como não fico careca, minha barriga não cresce e meus pés de galinha não aparecem, infelizmente me convenceram de que por enquanto não sou um tiozinho da sukita e que ainda dou um caldo. O ruim é que isso vem me atrapalhando no meu tratamento sério da minha Síndrome de Peter Pan que já venho fazendo por mais de cinco anos. Por isso, quando pinta uma Anita pra fazer aula, tento passar aquele pedaço de mal caminho pra outro professor. E assim sigo com meu coração plastificado e sempre saindo de casa com um cinto de castidade (sem esquecer de deixar as chaves com a dona da pensão). E claro, usando a música como arte, trabalho mas sobretudo como remédio e terapia. Talvez por tudo isso que sou e como vejo hoje as mulheres, Deus não permita que eu aconteça ou saia do anonimato. Seria muito perigoso. Mas quer saber? Nem quero mesmo nada agora porque Ele sabe o que faz e aprontou comigo: “Já que você gosta tanto de mulher então toma!” Me deu mais três beldades pra eu curtir, cuidar, amar. E Ele sabe que é por elas que vivo. Então pra que mais? O que vou querer mais da vida? Na verdade quero sim. Quero um dia poder olhar pra todas as mulheres do mundo com calma, com pureza, com uma ternura e com o respeito que a maioria delas merece. Mas infelizmente ainda sou um Saulo que sabe que quando virar Paulo vai comer o pão que o diabo amassou. Tudo bem, eu mereço. Mas se é pra perder a cabeça no final, que seja como ele, em grande estilo.



Postado ao som de "pout pourri" (Badi Assad)

2 comentários:

  1. Cara, q barato te ler. Ainda o farei com mais calma, é mt coisa!!!!
    Beijo Sergio.

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  2. Ah!, esqueci meu endereço.
    sininholuz@msn.com
    sininholuz.musicblog.com.br

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