segunda-feira, 11 de maio de 2009

SEGREDO

"A separação penetra a pessoa ausente como um pigmento e a impregna numa radiante nobreza." (Boy George)

O que era pra ser apenas sorrisos e palavras

Transformou-se em afeição e fixação

Descobri que a saudade que eu sentia do que senti

Era tamanha mas não infinita

Foi quando me iludi com minha maturidade

A carência enfraqueceu a razão

E eu não quis enxergar a paixão

E o sofrimento de mãos dadas

Controlei teus gestos, olhares e falas

Mas não o vício de pensar em você


Enquanto atuei com a discrição e a distração

Compliquei a vida em nome do presente

Enquanto alimentei a chama perigosa

Anulei a culpa em nome do passado

Enquanto esperei a febre passar

Hesitei me confessar em nome do futuro


A imaginação então foi compensando

A falta do que eu queria e não tinha

Minha boca na tua era meu pequeno sonho

Que eu achava que me bastava

Até a hora em que você me aparecia

Com tanto do que sempre ignorei

E prestando atenção me diverti tanto

Que eu até me esqueci que meu mundo não cabia no seu

Então me lembrei de como era aquela dor


Não te evitei, não te procurei,

Não te magoei, nem te perdoei

Porque o medo angustiado e o respeito envergonhado

Sufocaram a minha entrega

Não me desculpei, não te consolei,

Não me decepcionei, nem te amei

Porque a nossa história só aconteceu

No meu faz de conta


Ninguém poderá me acusar

Ninguém saberá me julgar

Ninguém precisará me condenar

Porque já paguei pelos acertos e erros que não cometi

Me consola saber que no futuro

Não terei cartas, fotos, presentes pra lembrar

Que no meu vazio com a minha indecisão

Que na minha inquietação com a sua perfeição

Sofri e chorei ao ter a certeza

Que nunca conheceria os teus defeitos


Me alivia saber que algum dia

Vou me lembrar sereno e sorrindo

Do segredo mais bonito que eu guardei


Letra escrita no início dessa década e que musiquei em 2003 depois de ouvir o disco “Grace” de Jeff Buckley.


Postado ao som de “Dois Elefantes” (Paralamas do Sucesso)

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